domingo, 25 de dezembro de 2011

lume

lume. somos lume
alumiando noites escuras
e casas tristes.
somos lama: matriz
de seres novos,
derramamo-nos
em baús e bueiros:
construção 
leme somos em mares
desertos
incertos rumos prumos
só nos guiam
as estrelas
ah: o limo
das estações, elos perdidos
os enigmas: somos limo
de gerações
tudo nos chama
tudo clama:
clamamos nos desertos
e decerto
não nos ouvirão
ou verão
lumes nos céus:
mas o mundo segue.
indiferente
aos incréus
os centauros passeiam nos jardins
pastando matérias de sonhos.

sábado, 17 de dezembro de 2011

o que me move


imagem: gregory Jordan/flickr

o que me move
são as improbabilidades
o implausível me atrai
e me traz
a paz
contra a irremediável prisão
do real
e de sua finitude:
olha
no meu jardim de sons
e de palavras cruas
nuas ninfas dançam
entre centauros e cavalos
alados.
os sonhos me levam
adiante
nessas estradas sem sal
e sem suor
o impossível me acena
com prendas e rendas
de teias
que trançam e tocam 
o infinito:
olha, as cordas vibram
e as vibrantes correntes
pulsam nas partituras:
partir, chegar,
ficar, dormir,
vagar:
o eterno se faz presente
nesse mínimo momento
que é.   

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

uma porta

uma porta é apenas uma porta.e depende
de quem a toque, de quem a force,
de quem a empurre
para que possa se abrir
para que se possa fechar.
um porta.pórtico.porto.
portal chegadas, de partidas,
de adentramento
de estares 
de solidões
ou de compartilhamento.
uma porta depende. de tanto.
de tudo. de muitos.
para ser porta
de entradas e saídas
de desbravamentos
de rumos
de muros
de claridades,penumbras
ou escuros.
depende. tudo depende.
nada nem ninguém 
vive sozinho.


a vida é ciclo.
é circo de belezas
ou de horrores.tudo depende
da ótica
da ética
tudo depende
e tudo pende
como frutos maduros
de nossas cabeças.
tudo transcende
e acende em nós
o impulso maior:
vida  

domingo, 13 de novembro de 2011

nada não


nada não. 
sei que você não se surpreendeu
 
com as flores que se abriam no jardim,
 
hinos 
de amor 
à vida
 
ao mundo
 
à terra.
 
em tempo de seca, aqueles cachos amarelos
 
pendendo feito ouro líquido dos galhos
 
nem sei como os ipês conseguem florescer
 continuam congestionados 
de vermelho
 
não de pores de sol
 
ou de auroras boreais
 assim-
buscando
 tédios,de ócios,
 
de ódios, de adeuses
 
no âmago da terra aquela força
 , vegetal, para brilhar 
em ouros líquidos, rosas líquidos, roxos
 
cerúleos, brancos hialinos
 

nada não. sei que você não se surpreende com nadas
 
nem tudos. para você não passa de nada
 
nem sabe em que direção olhar.seus
 
olhos
 que você sempre dá... 
tô vazando, até logo,
 
bye
 
te ligo de lá:
 
correcorrecorre
 
não há jardins que resistam
 
nem primaveraverãoutoninverno
 
que redimam seu olhar:
 


nada não: você nem soube reparar
 que você sempre dá... 
tô vazando, até logo,
 
bye
 
te ligo de lá:
 
correcorrecorre
 
não há jardins que resistam
 
nem primaveraverãoutonoinverno
 
que redimam seu olhar:
 de cara, tô de cara com você 
que não sabe falar, se expressar,
 
vai lá, diga alguma coisa,peça
 
a luz dos meus olhos
 
meus lábios nos silêncios
 
que você detesta:
 

um sanduíche,
 
um suco natural,.
 
uma cerveja
 
saia prá balada,dance,
 
pule, esperneie,
 
grite,
 
se arrebente|:
 apesar de seu olhar 
indefinido
 
os jardins continuam a florescer
 
ouro,prata, topázios
 
e ametistas
 
em silêncios naturais.
 
rascunhos
 
do que você
 
sempre quer.
 

nada não. não somos assim
 
como você quer
 
voamos como passarim
 
vagarim
 
não como vãos avi-ões
 
a mil.
 


nada não. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

enquanto leio dante


imagem: svennevenn/flickr


pedaços
em paredes
turvas
curvas
partes
pecados tortos
desrumos
desnadas:
coisas
palavraslarvaslivros
antiluvas de treliças
vãos sobre a mesma
matéria:
correr prá onde?
padeço em
pedaços
enquanto leio dante.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

seda ii


dentre as dobras do tempo
eu me dobro.
em suas fendas
me escondo.
sob as ondas do tempo
soçobro
qual partícula de areia
intangível
que se dilui no turqueza
das águas.
ah! as águas do mundo
me embalam
e me embolo, qual feto
aturdido
aos primeiros frêmitos
da luz.
...
! mundo, mundo, mundo,
como são várias
as árias de sua música
os signos e
suas leituras
tantas (im) possibilidades!
...


onde me dobro,
onde mergulho,
onde me encolho,
como me escolho,
onde me acolho?


onde guardar
meus fardos
meus fados
meus dardos
e meus casulos
que antecedem a seda
mais fina,
e a renda
mais perfeita?

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

assim, a nu

onde foi que guardei
os velhos poemas,
os livros de ontem?
em alguma gaveta, mas olhe,
não quero mais reverências
ou referências
reticências
ao passado ou ao futuro:
a vida está sendo escrita
a ferro e fogo, nas pedras,
nos corpos
e nas almas:
a nós, cabe vivê-la
enquanto há tempo:
e traduzir, em palavrimagens
nossos corações:
assim, a nu.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

uma banana pro caos

e vi um cão
latindo pro caos:
ou cais?
pontos de interceptação
ou de interrogações
de partidas:
vindasvendasidassendas
vidasvidasvidas
uividos lobos
cão e caos
de bocas abertas
narinas arghfantes
inalando o breu
de hiimalais profundos
ou subterranicos
fossos
abissais.
um cão um caos
um cais
um cai
outro cai
numa rede inconsútil:
vida.

...ah, dinda nina você todos nós:
prá que tantos guardados
tantos baús, bués, boás,
prá que tanta coisa organizada em tantos prateleitos
sem eiras
sem beiras
prá que tanta lembrança acumulada
papeis nas gavetas, roupas
nos armários,
latas, garrafas, cartões, cartas amareladas,
fotografias
de velhos tempos
música: vinis, cds, cassetes,posteres,
postais de viagens cabeça
espirituais, spirituals
cânticos
tanto canto amontoado
tantqas pregas no tempo
tantas rugas,
rusgas, nesgas de ontens,
vislumbres,
alumbramentos:
prá nada, sabe,
prá nada:

 eu vi um cão uivando(sim, feito lobo)
uma imagem única
 e nítida
uma imagem cínica:
o tempo o tempo o tempo
a vida é átimo
como um bater de asas de cigarra,
um cigarro a se esvair entre os dedos,
um salto no escuro:

prá que tanta lembrança
se não podemos empilhar os dias
prá sacar- dias felizes de então-
quando a maré sobe?
dias não se empilham
não se empalham feito bichos
não se guarda em gavetas:
dias passam
e dias virão:

então
somos o cão
dando uma banana pro caos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

brinquedo

ser. estar.
ser star
num céu de papel maché
estrelas de brinquedo
na palma da mão:
bilboquê
na mão do menino:
destino? sei não
a vida é que vale tudo
e o agora tinge tintas
de todas as cores

imagem: steve-h/ flickr

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

signos

persigno-me
(em cada esaquina de mim,em todos
os escusos escarros
)persigo-me
(em todo labirinto, em
cada gomo da laranja,
 córtex)
prossigo-me
(e cego tateio, em signos
antigos- ícones rupestres
que me assolam os sonhos:>
sou-me e sou-te
somos um e todos:)
rúnico destino
trançado
nos veios da pedra

imagem: Ben  Ramsey/flickr

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

rascunhos


imagem Marina Guimaraes;flickr


>nada não.
sei que você não se surpreendeu
com as flores que se abriam no jardim,
em tempo de seca, aqueles cachos amarelos
pendendo feito ouro líquido dos galhos
nem sei como os ipês conseguem florescer
assim-buscando no âmago da terra aquela força
desumana, quer dizer, vegetal, para brilhar
em ouros líquidos, rosas líquidos, roxos
cerúleos, brancos hialinos
hinos
de amor
à vida
ao mundo
à terra.
nada não. sei que você não se surpreende com nadas
nem tudos. para você não passa de nada
nem sabe em que direção olhar.seus
olhos
continuam congestionados
de vermelho
não de pores de sol
ou de auroras boreais
mas de tédios,de ócios,
de ódios, de adeuses
que você sempre dá...
tô vazando, até logo,
bye
te ligo de lá:
correcorrecorre
não há jardins que resistama
nem primaveraverãoutonoinverno
que redimam seu olhar:
nada não: você nem soube reparar
na luz dos meus olhos
nem soube ler
meus lábios nos silêncios
que você detesta:
de cara, tô de cara com você
que não sabe falar, se expressar,
vai lá, diga alguma coisa,peça
um sanduíche,
um suco natural,.
uma cerveja
saia prá balada,dance,
pule, esperneie,
grite,
se arrebente|:
nada não. não somos assim
como você quer
voamos como passarinhos
vagarinho
não como aviões
a mil.

nada não. apesar de seu olhar
indefinido
os jardins continuam a florescer
ouro,prata, topázios
e ametistas
em silêncios naturais.
rascunhos
do que você
sempre quer.

domingo, 7 de agosto de 2011

peixe


imagem: narice28/flickr

apesar do lodo, do limo, das algas, apesar dos sargaços,das turbulências e de tudo, o peixe nada
e sonha, sim, o peixe sonha, sua memória é curta, curtíssima( quantos segundos?)
mas nesse átimo ínfimo de tempo de memória de lembrança neste mister de mistério e vicissitudes
o peixe sonha.

sonha em ser pássaro, talvez, um passarinho solto no sertão no mato um passarinho rápido lépido assobiando cantos arrebatando fios abocanhando frutos sim um passarinho
bêbadazul de um céu de qualquer tempo
sim o peixe sonha em se desvencilhar
de toneladas de água
e de opressão verdiazul de águas de algas de corais de iscais e de anzóis de redes e de outros medos
o peixe sonha.

ser flor, florescer em cachos, em penas, florescer em rubros e violáceos pistilos corolas pétalas cor de rosa choque cartelas lúdicas de azuis palhetas de pintores vangogh e girassois e o sol girando
e o peixe sonha em alçar voos mais longinquos e ser tanta coisa
e em sua sede ser como os poetas que buscam alhures o que aqui não encontram: e os poetas, que ironia, sonham em ser peixes a singrar os mares nunca dantes pressentidos

e os poetas sonham, ah, como poetas sonham! em ser isso, ser aquilo, ser protótipos do belo, arautos da delicadeza embora a torpeza quase sempre acompanhe os passos de todos nós homens e mulheres
no fuundo dos nossos leitos.

e os peixes singram esses rios, mares, lagos e fiordes, oh my lord, procurando o quê?
e peixes procuram algo? procuram algas? procuram o tudo? o nada?
nada não. o peixe apenas nada. a favor e contra as coerrentes.
e em sua memória curta não curte sua história. não há corte possível. nem córtex.

..mas o peixe poeta insiste em sonhar. e nem percebe, absorto, a mão da natureza, a força dos instintos,
a boca que se abre e os dentes afiados
a ponto devorar.
e o mar azul, transparente, lúdico, onírico, se tinge de vermelho,
não de sonho.,
de vida real.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

lobos


imagem: katie@/flickr

os lobos urram nas estepes e na neve gelada
suas impossibilidades. e suas improbabilidades
caminham junto com eles, as patas marcando
descaminhos, em busca da carne e das fêmeas
que se perderam

os lobos urram seus cantos de agonia
para uma lua indiferente,
para aum céu de chumbo e estanho
estranho céu de claridades alteradas

os lobos uivam e os coiotes
também se irmanam e se agrupam
nessas caçadas ancestrais
nas estepes geladas, a névoa seca,
a neve impiedosa
como facas
cortando as patas

os lobos uivam
e não sabem
como se traduzir:
não há som possível
não há palavra em suas línguas
enquanto seus corpos minguam
em busca da carne
escassa:
os lobos.

domingo, 24 de julho de 2011

acalanto



imagem: self-za/Flickr

Quando pousas
tuas mãos em meus cabelos
nessas carícias leves,
mesmo que breves,
nestes mansos afagos
eu me afogo
e adormeço
anoiteço e amanheço
em puro êxtase de poesia.

Quando tua boca sussurra
em meus ouvidos
segredos de todos os dias
eu me perco
no labirinto da noite
e entonteço
nos teus braços cálidos:
puro êxtase de poesia
é repousar no teu colo
meu solo
sagrado.

Toco-te
tocas-me
tocamo-nos
e a música que flui
dos nossos corpos
toca as estrelas
e abre o pórtico
do universo
que se esconde, tímido,
na lírica íris do teu olho
e na minha pele
em brasa.

Nossos corpos
nossas almas
salmos máximos
que fazem sonhar
as estrelas
e são moradas
de Deus.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

laudamus te

laudamus te
palavra
ave de voo cético
que atravessa paredes
e estraçalha vidros.
laudamus te
poesia
que se insurge, sorrateira
sobre os beirais
os haicais
sobre as camas
e os casais
que se devotam
se devoram
ao som dos poemas
de amor
de qualqeur tempo:
laudamus te
palavra e poesia
pão nosso
de todo dia,

segunda-feira, 11 de julho de 2011

canto nada romantico


imagem: Joost J.Bakker IJMuiden/Flickr

nada que pudesse escapar aos olhos deixaria meus sentidos sobre as pedras brutas:
nada que se perdesse no vôo intransitivo dos pássaros
transmutados em bólidos gélidos e claudicantes
após o vértice das violências cotidianas
passaria despercebido
aos meus lábios mortais. mas tais argumentos não passavam pela minha cabeça
nem faziam minha língua tremer
ao beijar os cálidos gomos de laranjas maduras
sumos benfazejos como beijaflores trepando com
as rubras orquideas
e se afogando em gozos matinais.
nada que pudesse ser livre poderia trazer-me inconsequencias
ou tardos fastios. nada como fastifudes ou fodas empíricas
oníricas e causticas buscas queimariam meus neurônios.
por isso caminho até o cima da escada,
até o fim da estrada
e sou início de trilha:
me perco
em esquinas de mim
e me jogo nos poços
profundos dos outros
buscando esses olhos, essas linguas
essas bocas
esses pássaros
que possam trazer-me cantos
ainda vivos,
ainda lívidos,
ainda lindos
apesar.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

aqui

Nada se cria aqui
Dontcry
Tudo que ,e
Desde sempre
Gira.
No vertice da flor
O inseto morre
o incerto morde
As possubilidades.
Dontcry,
Pois depois do pus,
De ti
Ainda vicejarao as margaridas
E as moscas varejeiras

terça-feira, 5 de julho de 2011

sessenta e um


imagem: azz/Flickr


eu poderia
discorrer sobre muito mais
do que sessenta e um motivos
prá estar de cara com o mundo
ou de porre com a vida
sim, eu poderia
abrir as comportas
e deixar escorrer palavras
como águas como mágoas
enxurradas de signos
entupindo bueiros
e vazando sentidos.
mas eu não.
nesta manhã fria de julho
quero apenas sorver o sereno
e a serenidade
e me encantar com o presente
que me é dado viver:
um dia a cada dia.

terça-feira, 28 de junho de 2011

quero


imagem: Traveling' Librarian

Hoje, eu quero sair
e beber a manhã
como se bebe
o mais cálido dos vinhos.
quero ser o oposto
desse imposto ser
que em mim se alojou.
Hoje quero queimar os meus dedos
tocando este sol brilhante
no exato instante
em que fulgir o beijo
da nuvem sobre a lua:
integrar-me à rua
e a seus pertences.
Hoje, não quero sorrir
o sorriso dolorido
da hiena
quero, como no poema,
deixar a vida fluir.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

outro cantar


imagem: Mr. Noded/Flickr

fescenino,
me intrometo
entre teus seios
como víbora
enroscando e sugando
me meto
entre tuas pernas
e te devoro
coma fome de séculos.
mas lírico me derreto
em suores e tonus
em águas
cal
ientes
e ouso dizer
sem palavras
entre dentes:
te amo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

sobre as águas, sob as ondas


imagem: multisanti/flickr

um poemínimo, inspirado pelo texto da poeta Raiblue " "minguante blue.


Sobre as águas, sob as ondas
Andas assim: como nos evangelhos
Em seus blue estrela star
Estar assim: enlevada, enluada,
Elevada sobre as vias
Cáusticas
Do caos urbano
Que sei, lhe dói
E rói
Seu sentido mais profundo
De um mundo azul.

A vida navega em ti,
buscas paradas
Portos e portas novas,
Naves que te levem
Aos nirvanas azuis
Aos tântricos portais:
Mas os rochedos tolhem
Encolhem os sentidos
Não se escolhe caminhos
Que surgem, e se insurgem
Contra nós:

A poesia nos salva, porém,
Deste des(a)tino
Desatado caminho
Escaneado de fantasmas
Lóucidos
Que se alvoroçam
E se afogam
Em mares de tédio:

A poesia é ácida
E é lúcida
E nos ensina
O caminho das pedras
Para romper os rochedos.

E dos plexos
Solares e lunares
Há de nascer o sol
Solapando as trevas
E rasgando os véus de Isis:

O azul, bluestrelastar
Ir-romperá assim
Como lótus
Purificando o lodo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

spleen

...ando à beira dos precipícios
com os pés no vazio
e os olhos no oco do mundo
...ando no frio da navalha
e sinto,a cada instante, o toque
gelado do corte, esfacelando
esperas
ainda me sinto vago e me sento
no topo dos everestes
longinquos
esperando nada.
ando à beira da vida
e nem me bastam copos de cicuta:
é muito mais crua
a desolação.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

penumbra


imagem: Boltron/Flickr



anapenumbra vislumbrava
lumes
e cardumes de peixes vagalumes
tremeluzindo lilazes
no breu.
ana. anavegando estrelas vagas
vegas
e constelações centauricas
em viestradas lácteas
úberes mamas
de leite branco e bom
escorrendo pelos cantos
das bocas e das vozes
vezes cem vezes mil
milagres dos instintos
e dos presentimentos
cerebrais:
córtexes, hipotálamos,
hipocampos
e os cavalos marinhos
cavalgando sonhos
nos reinos de netuno.
ana.
anavegando circulos
viciosos
dados surrados
nas mãos do acaso.
ocaso da raça?
nada.apenas ana
circunauvegando nos lençóis
em noite de luz cheia:
corpãoesia pura.


domingo, 22 de maio de 2011

versiculo zero

..e no principio
a palavra pairava
etérea
sobre um campo infinito:
nem silêncio, nem grito,
sua imagem
apenas miragem
de adões redivivos.
então a palavra se fez
cerne
fibra,nervos
se fez cisne
a navegar em mares
e sonhares:
aí a palavra fez-se
carne
músculos & sangue
:ossos e nervatura:
doce mansa cega crua
uma confusa babel
fez morada
na língua molhada:
..reza e raça
faca
cortando fundo
na carne.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ao léu


imagem: zeus 1642/flicrkr

entre as transversais
há delícias
de se estar
nos sumidouros
que nos afastam
do rés
do chão
:partes de um todo
língua franca,
braços alertas
veias abertas:
eia, camaradas
ao léu!

domingo, 8 de maio de 2011

drusa

Drusa, você me disse,
Você é como drusa
e eu, como assim?
não sabia
e fui ao dicionário conferir
e me vi ali: superfície plana,
atapetada de cristais,
de quartzo, ágata, turmalinas
jades e que tais: o que mais
posso dizer?
ser uma drusa
ou uma dúzia de drusas
me deixa feliz?
ser transparente por demais,
por demais devassável
lúdico lúcidas
ácidas luzes luzindo no escuro
e ser desvendado por seus olhos
que me enxergam dentro
como raios x, y, z:
você disse: lúcida drusa
e eu sorrio, quieto
e me sento na beira das montanhas
sonhando vê-la assim:
vela acesa,lingua transparente,sulco
escavado na terra
grito lírico da vida
querendo ter esse brilho
e essa planitude de cristais:
nada mais.
que você?

domingo, 1 de maio de 2011

enquanto rita me espia


imagem: ANGELOUX/Flickr

rita hayworth sol em brasa
me espia de relance
enquanto lanço
meus monstros na arena:
areia seca, áspera,
rude pavimento
onde os monstros pastam
e não se apascentam
ou se amedontram
com capas e espadas
alvirubras:
este jogo de monstros
e poetas é um engodo
ou não:
os monstros se vão
e os toureiros ficam
a prescrutar horizontes
e ocasos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

éramos nós


imagem: anas ahmad/flickr

a caixa de leite abandonada sobre a mesa
amassada pela metade
traduz esse abandono
e a solidão de um copo sujo
deixado prá trás
com marcas de baton
e dos dedos teus
cpomo marcas indeléveis
de um passado
que não passa.
sobre a pia, pratos amontoados
rstos de pizza, fiapos verdes
do que ontem foram margaritas
divididas, entre lençóis.
agora, tua ausência grita silêncios
e arranha as paredes
como gatas no cio
teus cheiros, teus dedos,
teus suores
inundam tudo
como mares náufragos:
teu silêncio ao telefone
teu não estar
arranca gritos mudos
e explode em uivos
de lobo prá lua:
nua nua nua
tua lembrança invade
os vadios lençóis:
éramos nós.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

cheiros



imagem: sundaymay/flickr

que os cheiros me invadem as lembranças isso eu sei
há muito tempo. cheiros de domingos antigos,
ternos brancos, roupas limpas, rosas brancas
margaridas ao longo dos caminhos, aquelas de árvores
que só dão na roça. roçam em mim arbustos verdes pequenos pés de urtigas
que na minha infância se chamavam cansansão
e eu ficava pensando em sansão e nos cabelos fortes e compridos
e em dalilas dançando na minha imaginação. os cheiros suaves de meninas se lavando
nas cachaoeiras os pés lindos e morenos dançando na água e nós ali escondidos vendo os corpos desnudos gozando as delícias das águas
os refluxos das águas e nós ali escondidos e nossos fluxos
de sangue nas veias de porra nas mãos molhadas os gozos
os estertores e as meninas nem sabiam que gozávamos com elas aquelas delicias
de banhos ocultos
e quando éramos nós, os meninos, se banhando ali os cheiros
cítricos os cheiros eram as mesmas
sacanagens
mas as meninas eram recatadas e se escondiam
muito mais
os cheiros sempre me dominaram: cheiros acres, ácidos,
cheiros fétidos de mortos em seus caixões
que se desmanchavam em flores
que se misturavam aos cheiros das visitas
dos suores
de mijo das privadas sujas
das casas pobres
e os mortos ali: descansando
e fedendo, até que fossem levados
ao seu fim.
cheiros são senhas prá mim: da infância guardo
o cheiro das maçãs- aquelas que vinham embrulhadas
naquele papel azul, de seda perfumada, e que o pai
trazia, de longe dizia ele, de vez em quando
por que eram caras: não essas maçãs de hoje,
esparramadas nas gôndolas dos supermercados,
sem cheiros, sem apelos: maçãs antigas,
que cheiravam a pomares, a delícias
proibidas
de reinos distantes.
os cheiros me conduzem
e puxam
os fios das memórias:
primeiros beijos, cheiros de bocas
e linguas menta-hortelã
que delícia, que malícia
agarrar tua língua assim, morder,
prender na minha
e misturar os cheiros
as primeiras transas inocentes
uma encoxada aqui um beliscão ali
um beijo mais atrevido
um seio arrepiado
cheiros de sabonete de rosas
e lavanda a barba ainda a nascer
os pelos ainda nada
mas o sexo já ardendo
nas coxas das moças
cheiros de vida, cheiros de mato,
de morte, cheiros de marés e navios
da primeira vez aque vi o mar
nossa, que coisa é essa
que mundo dágua
algas, algas, cheiros de sal
e mais tarde os cheiros marinhos
se incrustaram em mim
e são memórias afetivas.

cheiros. cheios de apelos
conduzem nossos fios
de memória
pelos meandros do tempo:
respingos de saudades.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

amor

pois amar é deslumbramento
desmembramento
dos corpos
em partes desiguais
que amam igual
amar é estar preso
é ser presa
e estar solto
um salto
uma surpresa continuada
em cada gesto inter-romp
ido.
pois amar é assim: cortejo,
desejo,odes à alegria
é estar aqui e longe
daqui
é morrer de tesão
e afogar-se em ternuras
é afagar teu corpo
que é meu corpo
é estar aí, junto
contigo
mesmo se em distantes paragens.
pois amar é deslumbrar-se
é decantar-se em prosa
e verso
é catarse e depuração
pairação
pira\ção:
amar:
verbo de toda e qualquer
conjugação
sobre os leitos alvos
ou sobre os catres toscos
elixir
prá se voltar dos exilios
a que nos condenamos.

quinta-feira, 31 de março de 2011

proibido

é proibido amar
o mar e seus mistérios
e sua profundidade.
em solo seca,
em terra firme
em campo estéril
não cabe sonhar.

domingo, 20 de março de 2011

banquete


imagem: Leedav/flickr

,e a cena se repete: cena ceia que se faz todos os sábados da semana sabaths não comao em salém nem como salomés que serviam cabeças de joões decepadas por vaidade orgulho e amores desferidos: ceias de familia seios de moças e de velhas esbaforidos pelos vestidos e decotes de peitos e costas e de homens babando e balbuciando como bebês palavras desconexas: e tome cobiça e tome e come a mulher do mais próximo. à mesa, a anciã- a matriarca regendo esta triste orquestra: uma familia que se reune ali, na noite de sábado para a ceia: olhos famintos, bocas abertas, peitos arregalados, mulheres acesas, homens desarvorados buscando sexo ali: na mesa de jantar, em frente à anciã, não se esconde o tesão nem se repete o amor : ali, rola solta a sacação em cima dos outros e das outras.
olhos flamejantes, bocas cheias, estupidezes de gente tão deslocada: um banquete dos mendigos: de alma ou de transcendências: brecht é fichinha- bunuel também: aqui, a burguesia mostra os dentes e solta os bichos.
era pra ser apenas uma ceia de sábado: alegre, feliz, abraços comovidos, netinhos beijando vovó, os homens falando dos negócios e das mulheres as mulheres rindo e se maquiando e falando dos homens. mas nada é asim: o bicho pega, as bocas se entortam, entorna-se o caldo que não é da sopa:
era para ser apenas uma ceia a mais- mais um sábado.
um cachorro sonoalento espera os ossos do banquete. e rosna baixinho, não entendendo os homens- e todas as suas falácias e desculpas para esconder o óbvio: todos querem se comer.

domingo, 13 de março de 2011

falo


imagem: re100cyber/flickr

falo de bandeira
almofadas
almas/fodas
será que os corpos
que se estendem
se entendem
de verdade?

terça-feira, 8 de março de 2011

pedrarubra


imagem: Eva The Weaver/ Flickr


aprender com as pedras
a linguagem dos silêncios
e dos falares interiores:
vede: o sumo rubro das cerejas
que escorre pelas bocas
não adivinha a cor
das caras em brasa
quando o desejo queima
suas peles:
transfiguração

domingo, 27 de fevereiro de 2011

manifesto poético feijão com arroz


imagem: travelin librarian/flickr


cantemos odes à poesia!
cantemos loas
façamos luas e
luaus de poesia!

façamos da poesia a nossa arma
que nossa alma se derrame em poesia!
em poemas
líricos
tísicos
físicos
espirituais
calmos
bravos
loucos
amorais
antropofágicos
autofágicos
verborrágicos
demais
façamos poemas
românticos
quânticos
antigos
profícuos
prolixos
anti-
sociais!
poemas rápidos longos curtos
e haicais
mântricos
tântricos
sonetos
tercetos
ditirambos
e que tais
de um verso
de reversos
de anversos
antes, durante
de diversos
tons e sons
façamos a poesia
feijão com arroz
que nos alimente
que fomente
que aumente
que sustente
que fermente
a nossa fome
de sonhos
e sentimentos.

façamos poesia,
ontem, hoje,
antes, depois,
ora pois!
a poesia
feijão-com-arroz.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

tudo é belo


imagem: H.KoppDelaney

não deixe que meus sentidos
escorram por entre seus dedos
seus medos
esqueça-os
em qualquer mesa
de um bar qualquer
não deixe que as carícias
sobre a tua pele
flor
se desmanchem em gotas
de cristais
que já não sabem mais
a cheiros de jasmins
perdidos em jardins
de antigamente
não deixe
que o belo perca o caminho
das nossas vidas.
tudo é belo
belo é o sexo belo é o amor
belo é o sexo com amor
ou sem amor
belos são os sentidos
que se alvoroçam
e os amores
que se arvoram
em pássaros na madrugada.
bela és tu. belo sou eu.somos
belos
porque somos humanos.somos humus
e sumo somos soma
somos
o cantaro da natureza
que se orgulha de nós.
não deixe
que escorra entre teus dedos
aquilo que te ofereço
luas cheias, estrelas incandescentes,
a carne irisdecente,
versos indecentes
sexo latejante
caricias volúpias e sentidos
puros ou torpes:
tudo é belo. tudo é puro.
tudo é sagrado.
tudo canta em unissono
a cantiga do universo
que infimo
se esconde
em cada canto de nós
assim
quero me paramentar
de vestes púrpuras
e encenar rituais
ao nossos encontro sagrado:
vou me vestir de leves
barulhos matinais
trazendo o sol em meus olhos
e a lua nos meus dentes
quero te encontrar
e partilhar contigo
O universo
Rompendo as cascas
e as marcas
de dias inúteis
e dores sombrias
olha: o céu nasceu agora
e brilha
na palma das nossa mão.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

mudas as coisas



imagem: darkmatter/flickr

porque as cores
findavam ali
ponto.
as cadeiras estáticas
respiravam ofegantes
suas inconsistências.
sem urgências
o mundo:
mudas as coisas

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

até o osso


imagem: Today is a good day/Flickr

é que a geografia do desejo
desconhece barreiras
fronteiras
muros mares cercas
secas ou enchentes:
não mapas
não atlas
atitudes toscas
e caminhos árduos:
tudo é flor,
tudo é espinho
caminho ou descaminho
nos corpos nus
refratando
luz:
a geografia do desejo
se detém em acidentes
naturais
em montanhas e planícies
picos e reentrâncias
ossos do ofício
vãos
e desvãos
bicos e bocas
baco
e seus jogos
e bacantes:
bacana é isso
até no osso
a festa da vida

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

sacratíssima


imagem: BeautifulRust/Flickr

cerebrocerebelo
fnte/ponte
entre o ser
e o belo

cerebro
mente,
espírito
cons-ciência

trindade
sacratíssima
a reger
a vida.

o homem todo,
todo homem único,
rúnico ser
mente
semeando ventos
e colhendo sonhos
e desatinos

domingo, 30 de janeiro de 2011

respirais de ventos


imagem: Glockenblume/Flickr

tudo que se move
me acrescenta
me apascenta o espírito
braços que se erguem
olhos que se esgueiram
vozes que se alevantam
os suspiros: as bocas
entreabertas
os murmúrios
os barulhos do mar
e do amar
os rios
e os risos
rosas no cio
o início das coisas
O som do nada
arranhando paredes
brancas e encardidas:

a vida me comove
e remove tédios
e ócios
montanhas e abismos:
lirismos
ermos ismos
e aquilos:
tudo que se move
me comove
até à raiz do cabelo
e aos nervos à flor
da´pele
no movimento do tempo
e respirais
de ventos e

sábado, 22 de janeiro de 2011

mesmo que assim não seja


porque o desejo
não respeita muros
nem trincheiras. chega
cega e segue
e suga os corpos
numa saga impar
de não vencedores. dores
dores dores
e ardores árduos
na labuta das peles
no frêmito da carne
nas entradas e bandeiras
estradas de suores, sal
e de saliva
cuspindo beijos
iconoclastas
em qualquer boca.

porque a paixão é assim: fogo,
queimante,
brilhante e fugaz
delírio
lírio temporão
e atemporal
carnal.

e o amor, ah, o amor
há amor
fora dos compêndios
dos manuais e dos olhos
dos poetas?
o amor é aquela coisa toda
de se deitar com os detalhes
adivinhando o gosto da boca
um do outro. saber à luz
e escuro, à força e fraqueza
é beleza que se aninha
nos braços
que se estendem, que apertam,
que deliram,
ao toque simples, ao dedo
que se alcança
a um seio que entrega
à mansa sofreguidão
de quem tem
todo o tempo
mesmo que assim não seja.

poque o amor descansa
repousa em nossa pele
não busca sucedâneos
nem instantâneos poéticos:
Ele é a poesia
que se faz em cada poro
quando os amantes se deitam:
obras inacabadas
sinfonias
De corpos,músculos, nervos,
E ausência de palavras.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

breviário


imagem: Samat Jain (Flickr)

a..ve av..e ave
criaturas do mundo
s..alve sal..ve salve
oh mãe terra
concebida
nos espaços infinitos
que tua bandeira
pulse
ao som de pulsares
e quasars
e das valsas de Viena
e dos atabaques tribais
e todo o som mais
que sejam puros seus ares
e breves nossos destinos:
ave ave aves
e plantas e bichos
e coisas
e poetas miudinhos
que cantam as vidas pequenas
e filas indianas de formigas
em sua faina antiga
que minha tua nossa cantiga seja
Um hino
inacabado
um refazer em

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

sempre.


imagem: arquivo pessoal

,porque amigos a gente encontra e nos encantamos com sua existência
e cantamos cantigas para celebrar a vida, brincar e brindar o reencontro
de tantos tempos de tantos tontos tempos
que não ficaram no ontem.
passam as luas, as ruas passam, nuas as horas fogem,
os dias minguam, as dores magoam,
a vida corre, sorry! qual o caminho
em, que escaninhos da memória
vmaos guardar tantas lembranças?
mansas danças tranças transas
anjos barrocos de ourtos-pretos
poesia & pão & poesia
& caras limpás lavadas
dos encontros da vida
e de repente, assim, tão de reepente
am,i, gos voltam
I am, am I
eu sou nós somos
anmigos são. imagens tãso distantes mas tão perto como
anos luzminosos
amigos são
cor & flor
perfume & imensidão:
não, são minúcias também,são pequenezas,
são aqueles detalhes insurgentes
do senso incomum:
falta de siso, falta de tédio,
falta de iddéias velhas
os amigos se nos renovam:
e uma fala, uma voz,
num fim de tarde
reavivou saudades
trouxe lembranças
atiçou memórias
é a vida assim:
ESSE EMARANHADO DE FIOS
que não se embolam,
que não se perdem,
que não se enrolam
nas patas de um gato:
os fios de ariadne
a tecer sua teia
os fios de penelope
a aguar-mar dar ulisses
os laços ficam:
no ar, na estratosfera,
um dia voltam
assim, numa tarde qualquer.

(para adilson e Tildy, amigos , desde sempre).

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

sub-verter


imagem: Schristia/Flickr

subverter os sentidos
os desejos,
anarquizar os quereres:
somos soma assim:
cavalgando sonhos
e presenças prenhes
de tanta espera