domingo, 22 de maio de 2011

versiculo zero

..e no principio
a palavra pairava
etérea
sobre um campo infinito:
nem silêncio, nem grito,
sua imagem
apenas miragem
de adões redivivos.
então a palavra se fez
cerne
fibra,nervos
se fez cisne
a navegar em mares
e sonhares:
aí a palavra fez-se
carne
músculos & sangue
:ossos e nervatura:
doce mansa cega crua
uma confusa babel
fez morada
na língua molhada:
..reza e raça
faca
cortando fundo
na carne.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

ao léu


imagem: zeus 1642/flicrkr

entre as transversais
há delícias
de se estar
nos sumidouros
que nos afastam
do rés
do chão
:partes de um todo
língua franca,
braços alertas
veias abertas:
eia, camaradas
ao léu!

domingo, 8 de maio de 2011

drusa

Drusa, você me disse,
Você é como drusa
e eu, como assim?
não sabia
e fui ao dicionário conferir
e me vi ali: superfície plana,
atapetada de cristais,
de quartzo, ágata, turmalinas
jades e que tais: o que mais
posso dizer?
ser uma drusa
ou uma dúzia de drusas
me deixa feliz?
ser transparente por demais,
por demais devassável
lúdico lúcidas
ácidas luzes luzindo no escuro
e ser desvendado por seus olhos
que me enxergam dentro
como raios x, y, z:
você disse: lúcida drusa
e eu sorrio, quieto
e me sento na beira das montanhas
sonhando vê-la assim:
vela acesa,lingua transparente,sulco
escavado na terra
grito lírico da vida
querendo ter esse brilho
e essa planitude de cristais:
nada mais.
que você?

domingo, 1 de maio de 2011

enquanto rita me espia


imagem: ANGELOUX/Flickr

rita hayworth sol em brasa
me espia de relance
enquanto lanço
meus monstros na arena:
areia seca, áspera,
rude pavimento
onde os monstros pastam
e não se apascentam
ou se amedontram
com capas e espadas
alvirubras:
este jogo de monstros
e poetas é um engodo
ou não:
os monstros se vão
e os toureiros ficam
a prescrutar horizontes
e ocasos.