domingo, 24 de julho de 2011

acalanto



imagem: self-za/Flickr

Quando pousas
tuas mãos em meus cabelos
nessas carícias leves,
mesmo que breves,
nestes mansos afagos
eu me afogo
e adormeço
anoiteço e amanheço
em puro êxtase de poesia.

Quando tua boca sussurra
em meus ouvidos
segredos de todos os dias
eu me perco
no labirinto da noite
e entonteço
nos teus braços cálidos:
puro êxtase de poesia
é repousar no teu colo
meu solo
sagrado.

Toco-te
tocas-me
tocamo-nos
e a música que flui
dos nossos corpos
toca as estrelas
e abre o pórtico
do universo
que se esconde, tímido,
na lírica íris do teu olho
e na minha pele
em brasa.

Nossos corpos
nossas almas
salmos máximos
que fazem sonhar
as estrelas
e são moradas
de Deus.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

laudamus te

laudamus te
palavra
ave de voo cético
que atravessa paredes
e estraçalha vidros.
laudamus te
poesia
que se insurge, sorrateira
sobre os beirais
os haicais
sobre as camas
e os casais
que se devotam
se devoram
ao som dos poemas
de amor
de qualqeur tempo:
laudamus te
palavra e poesia
pão nosso
de todo dia,

segunda-feira, 11 de julho de 2011

canto nada romantico


imagem: Joost J.Bakker IJMuiden/Flickr

nada que pudesse escapar aos olhos deixaria meus sentidos sobre as pedras brutas:
nada que se perdesse no vôo intransitivo dos pássaros
transmutados em bólidos gélidos e claudicantes
após o vértice das violências cotidianas
passaria despercebido
aos meus lábios mortais. mas tais argumentos não passavam pela minha cabeça
nem faziam minha língua tremer
ao beijar os cálidos gomos de laranjas maduras
sumos benfazejos como beijaflores trepando com
as rubras orquideas
e se afogando em gozos matinais.
nada que pudesse ser livre poderia trazer-me inconsequencias
ou tardos fastios. nada como fastifudes ou fodas empíricas
oníricas e causticas buscas queimariam meus neurônios.
por isso caminho até o cima da escada,
até o fim da estrada
e sou início de trilha:
me perco
em esquinas de mim
e me jogo nos poços
profundos dos outros
buscando esses olhos, essas linguas
essas bocas
esses pássaros
que possam trazer-me cantos
ainda vivos,
ainda lívidos,
ainda lindos
apesar.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

aqui

Nada se cria aqui
Dontcry
Tudo que ,e
Desde sempre
Gira.
No vertice da flor
O inseto morre
o incerto morde
As possubilidades.
Dontcry,
Pois depois do pus,
De ti
Ainda vicejarao as margaridas
E as moscas varejeiras

terça-feira, 5 de julho de 2011

sessenta e um


imagem: azz/Flickr


eu poderia
discorrer sobre muito mais
do que sessenta e um motivos
prá estar de cara com o mundo
ou de porre com a vida
sim, eu poderia
abrir as comportas
e deixar escorrer palavras
como águas como mágoas
enxurradas de signos
entupindo bueiros
e vazando sentidos.
mas eu não.
nesta manhã fria de julho
quero apenas sorver o sereno
e a serenidade
e me encantar com o presente
que me é dado viver:
um dia a cada dia.