domingo, 19 de dezembro de 2010

devalssa


imagem: red nails;wrong city/flickr

maria das dores.
dolores.
dorinha.
dodô. dorzinha.
sozinha. No vai da valsa
o tempo
de novo. carne fresca,
boca em rosa,
carmim,
lenços brancos,
rodas
de saias,
corpo oculto
embaixo. fogo em brasa
Brisa e aragem
a dissipar calores
de moça.

mas na valsa
se entregava, imaginava
alcovas,rodopios,
camélias, mãos afoitas,
suores,
ai que morro!
E se dava sem medo
se abrindo,
rosa encarnada
entrevendo
os degraus
de paraísos
incontidos.

e na alcova era fêmea
cadela no cio
bicho
encolhida sob os machos
debaixo
de toneladas de peso
de carne nervos e músculos
e ela gostava, gemia,
ardia,
urdia,
e queria
muito mais.

no vai da valsa
o tempo
no compasso
dos passos
e rodopios.
o que era ontem
frescor
cara vermelha, assanho,
o que então era
vertigens
hoje é nada
pó, sem eira,beira
carne murcha, corpo
plácido
(só prá inglês ver)
dentro-puro vulcão
carmim
inda explodindo
Mas sem rubores nas faces
Da falsas valsas de então.

Tempo tempo tempo
Corpo corpo corpos
Que se desvanecem
Que se desfazem
No ar:
...hoje, como Eleanor, das dores se posta na janela, esperando, esperando, não sabe o quê...
e guarda todos os seus sonhos ( sim, sonhos, ainda e apesar) num jarro, como hieróglifos, como manuscritos de um mar morto, como grifos míticos e imaginários, para que um dia alguém deslacre esses vasos e descubra esses sonhos, perdidos, fendidos, esta massa de sensações
e movimentos, de momentos e mementos-
dores, das dores, dorinha, dorzinha,
em ebulição, em contração, em queda livre para dentro de si mesma,
esperando os outros. o outro. a outra.
a mão que virá salvá-la.
no desvão da valsa.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

um outro blues


imagem: DailyPic/Flickr

A paisagem se desdobra à minha frente
feita de brilhos e barulhos matinais.
Mas não me importo. Não me interessam
estas mornas tardes outonais.
Em meu peito chove. Rugem vendavais.

ela não. sente-se sozinha senta-se no vão da escada e começa a pensar. pensar.
“Eu me perco na minha própria perdição. Ando muito desligada, buscando trilhas, maravilhas e não vejo a vida que corre ao meu lado, cobrando, cobrando, feito cobra serpenteando ora fria ora quente o bote armado... Nada me importa e a viagem não tem fim. Fui. Fim. “

Ela lembra os velhos filmes e os desgarrados personagens de Nazarin e os figurantes do banquete dos mendigos. Putas, abandonados, cães vadios saídos dos becos de Brecht, gente sofredora que desfila por seus olhos pedindo uma chance de se mostrar, de se revelar, de poder soltar os seus clamores.


Ele deitado. Na cama um tédio sem remédio.
Ontem foi sexta e ele só chegou no sábado noite selvagem sexo sexo sexo foi amor foi paixão?
Não, foi só tesão , desejo de outro corpo, desejo estimulado pela mídia e pelo vício álcool na veia paraísos artificiais que luta o que é que eu busco
afinal onde é que eu vou para que estou aqui?
São tantas e tontas perguntas e a vida corre,
sorry. a vida corre, a noite escorre, o mundo é um grande porre,
cadê as adocicadas lovistoris onde é que eu entro nesta história?
Cansei, dancei.nem sei.
Penso e vomito meus medos escarro meus medos e meus medos me invadem
e se materializam e voam, soltos nos ares, feito vampiros feito nosferatus desiludidos e desesperados
querendo sangue mas muito mais que sangue querendo afetos
e afoitos se desintegram aos primeiros raios de sol
e aos mínimos sinais de carinhos ou caricias em suas faces túrgidas
e lívidas de habitantes da noite.
caralho, que pesadelos são estes que agora me atormentam?


Ela no vão da escada. Ele, deitado na cama, em seu tédio sem remédio,
ouvindo canções que não se usa mais,
valsas vienenses, bosques de imperadores, se esta rua fosse minha porra,
eu mandava te buscar... foda-se, eu quero e gosto das canções antigas...
ah, que tédio estes baticuns de hoje em dia....

ela se levanta do vão da escada, borra boca de baton. Vermelho vivo, como a vontade de se entregar ao primeiro cara que encontrar pela rua. Ela se levanta e vai ao encontro do inesperado. Quem? Ele, o cara do tédio sem remédio, das músicas que não se ouve mais do sexo selvagem que não tem a ver com paixão e com amor?
Ele mesmo.
Ele, a esmo,
sai da cama e se veste, feito um robô.mudo.
Bota a bermuda. A cena muda.

Um encontro romântico nos bosques de Viena ao som de strauss longos vetidos brancos rodopiando sonhos
enquanto vampiros negros nosferatus e dráculas sobrevoam os salões guardiões do cara do tédio.
Ele. Ela. Eles. E daí?
Daí, há de sair alguma coisa de concreto sangrando a cena,
alguma carícia mais afoita, uma noite de prazer,
duas ou três noites de trepadas, sim, e daí?
A vida é só isso aí?
Onde ficam os sonhos, os devaneios, as buscas, a esperança, a estrada de tijolos amarelos e os castelos de sissi e o palácio de esmeraldas e os poderes do anel?
Onde os poetas podem colocar seus versos e seus segredos
se não perdurarem sonhos e paragens outras, além, muito além?
ondde os poemas estendidos nos varais
dos quintais
prenunciando galos e autoras?
Não podem.
Ele. Ela. Eles.
E ávida a vida é assim. Seca.
Nua. Crua.
assim.

domingo, 12 de dezembro de 2010

tango


imagem: pedro buridi/flickr

gostava que lhe mordessem os peitos
que gotejavam aos toques
de línguas ásperas
dedos calejados
grossos
ensebados.
gostava.
que lhe cobrissem
com baba, cuspe,
suores e secreções:
era santa, tonta, era
rainha e escrava- cravo
encravado unha roxa
e rosa:
bota e espora
tinindo trincando.
gostava. gozava.
da posse e do poder.
ensaiava depois
passos de tango, sozinha,
dmaginando os corpos ao lado
do seu. ensaiava lânguidos
movimentos lúbricos
tango e tragédia:
o tango é belo
por ser tão trágico
ou trágico
por ser tão belo?
toda beleza é trágica
desde o desertar. toda
tragédia é bela
ao traduzir
as inconstâncias do humano
refazer.

tengo te ango triste e trágico
belo e terrivel
movuimento de corpos
se esfregando, se esfolando,
follando
fundindo-se
nestas fodas inferceles
tiais.

gostava. que lhe mordessem os peitos
que gotejavam aos toques
de línguas ásperas
e dedos calejados

na solidão do quatro.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

se a porta se abrir


imagem: flickr/cedro

subverter o sentido
das palavras.verter águas
em vértices obtusos,largos,
pronfusos
profundamente mergulhar
no amargo do desejo.
sagrar a geografia
singrada
dos corpos em ebulição
subinverter,

subverter a palavra
dos sentidos
anarquizar a ranhura
do desejo
encenar sonhos,
engendrar vontades
destroçar realidades.
zonear
o concreto das idéias
e lancelivrar
salivar
nas escalas do corpo
dos corpos
sem metáforas
ou mandrágoras
venenosas,

a palavra que estava aqui,agora,
solidificou-sem esquecimento
cimento de ausências
semente de urgências
que chegam como
os dias que correm, que passam,
que devoram
pssarinhos tontos, avoando
ímpares, díspares,

subverter os sentidos
os desejos,
anarquizar os quereres:
somos soma assim:
cavacando sonhos
e presenças prenhes
de tanta espera.

jogar-se do alto, mergulhar
sem escafandro
sem paraquedas
sem angústias
nesse mundo vasto,]
de gentes tantas.

tontas também. mas não importa
se a porta se abrir.