terça-feira, 18 de setembro de 2012

três



*

redoma alguma nos redime
do amar ou do morrer
e a vida não nos exime
do oficio de ser
entre tanatos e eros
buscamos frágil equilíbrio
no fio da navalha
ou no azul do poema
seu beijo me consola
e me comove
seu abraço me move
ao infinito

**

não é mais o tempo
de promessas vãs
de abraços quebrados
ou de se dar mãos vazias
cada vez mais
é preciso
ser impreciso
e incauto
e navegar sem astrolábios
em lábios mudos
e mudar os rumos
mesmo que aos gritos
de grutas escuras:
o amor nos procura
e nos cura
dessas insônias tristes:
a vida, essa senhora insana,
nos ensina o tour de force
o pas de deux
o pulo do gato:
tantas ruas, tantas gentes
tantos cipoais
a nos tolher os passos
já não nos afligem:
sem astrolábios
mergulho em seus lábios
mudos
sem escafandros
no céu de sua boca

***

ermo é o amor
que nos redime
de uma vida brusca
de uma busca incauta
por caminhos tortos
e destinos curtos
quanto mais ermo o amor
mais me entrego
ao seu dominio
com meus vicios e ócios
e virtudes
a navegar, sem bússolas,
enquanto o mar se abre
e estrelas brilham
incandescentes
nos céus de nossas bocas

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

que

que a poesia nos faça a vida leve
e o tempo não seja breve:
que o fardo não pese
mais do que nossa força
e que a beleza não seja
apenas o vermelho da cereja
encimando o bolo:
que a vida nos seja lira
de cordas mansas e oníricas
a nos desvendar caminhos
inimaginados.
depois da curva
a sessenta
onde o mundo
nos leva?
surpresas ainda existem
e nunca o primeiro amor
será o último:
tomara que a vida seja
sempre um ato de surpresa
não apenas ócios
de um dificil oficio
não apenas vicios
de respirares fictícios
não somente ossos
remanescentes de bichos:
que a vida seja eterna
enquanto existir ternuras
em cada mão que se toca:
toma a lira, toma a luva
encaixa em sua mão precisa
e desencaixe os sentidos:
uma, apenas uma, das nossas rugas
vale um inteiro universo
enquanto livre sorvemos
o perfume dos lírios.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ex tações

escapam dos olhos
lágrimas rubis
mares marés vermelhas
sangue
a pisar as rosas que já não são:
mudam-se os tempos,
as hordas passam
e atropelados
restam os desatinos
dos lírios pisados.
mudam as estações
tudo que foi não é mais
essa rosa que floresce
é outra, embora seja
como a essência da que foi:
imperenes
jogo-me aos círculos
de giz
buscando ser feliz
até o último ato:
onde o pulo do gato?
onde as sete vidas?

soçobram barcos fantasmas
vontades desfeitas
& ares rarefeitos
estufas
desidratadas
mudam as estações
passam as flores
e também os espinhos
os pés que aqui caminharam
já se foram, ao léu
e buscam algures
outros pés que inda virão:
um verão, uma primavera,
um outono
e um inverno
como tantos outros serão:
mas não serão os mesmos..
ao fim de tantos atos
cuspimos nos pratos sujos
de nossas interrogações.