terça-feira, 12 de novembro de 2013

outros nós

:
não mais sós
sóis
que escorrem  dos corpos
e encharcam de luz
os lençóis
poesia que flui
e jorra de nós:

outros nós

domingo, 27 de outubro de 2013

eden

a poesia é foda
ao extrair da garganta
pássaros entalados
cântaros enlatados
e sentidos
mais do que senti
mentos
a foda é poesia
que se destrava
treva que se desfaz
quando se une
a carne mais do que almas
desenrolando nós
de séculos de sentidos
amor daçados
é  foda
esse poetar sobre o sentidos
perdidos
desde o jardim do eden 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013


sei que nada mais importa
a não ser sair por aí rompendo barreiras vivendo apressadamente a cem mil por hora cada minu
to
sei
que tudo é nadaa e nada é tudo e tudo caminha a passos de anos luz para o fim e para a definitiva
des
integração
mas
queria muito mais que isso e que chamam de viver a tanta velocidade a tanta infelicidade que
ria o tantra o tanto o canto encantado queria poder parar no meio do caminho na curva do mun
dó tenho dó de ser assim tão rascante tão deselegante tão embevecido comigo mesmo como  um song of myself
salve me vida salve a vida deste correr louco e me deixa ser como um passarinho que canta e que 
cala quando sente  que é hora e me faz ver em frente e enfrentar os mundo mesmo que os anos 
passem
e que eu enfraqueça
que não morram meus sonhos
e nem o próximo passo  ceda
aos precinpicios de areias
e eu não me enfureça com o 
fim
salve, vida!
 
 

sábado, 12 de outubro de 2013

traga-me flores

,e quando vier
traga-me flores, por favor,
e esse seu sorriso branco,
lindo,
cheio de dentes pérolas
pérgolas de luz:
sim, eu sei que as flores secam
e caem ao chão
e que o sorriso lindo se desfaz
ao vento, tudo em vão
e que os dentes pétalas
de lua
não permanecerão
mas é um momento belo,
é um instante pleno
esse, em que estivermos juntos,
com flores lindas dentes brilhantes
lábios nos lábios
mordidas
gemidos e lamentos:
e isto não se repete
nenhuma vez
cada vez é outra vez:
essa é a beleza do estar
no mundo
traga-me flores, por favor,
e seu sorriso lindo
quando chegar, ao anoitecer

sábado, 28 de setembro de 2013

um blue

um blue ainda resiste
dentro de mim:
a trama, inda que trêmula,
um trema esquecido na língua
que treme, tonta
um fim 
resiste a t0da investida
e inda que pop linda que rock finda
 que tarde
arde etílica metílico azul
lírica musa 
nos meus confins:
e lá do fundo
 dos meus planos,
dos meus anos
dos meus sonhos
choram as cordas retesadas
nas cordas vocais de veludo
nada tudo tudo.
tudo. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

em tua boca

soprar em teus ouvidos
segredos de quantros ventos
de quatrinventos
de quatrocentos talhares
soprar. só prá te sentir
queimando
em minha mão marota
que te arranha,alisa,
com calos fumegantes
soprar em teus ouvidos
delícias de palavras
em jardins de edens
ébanos e abanos
muito loucos
os teus ouvidos moucos
cederão?
só sedas rasgarei
em teus sentidos:
em tua boca
morrerei

domingo, 8 de setembro de 2013

feel- iniana

..sentia-se assim quando caminhava pela rua na névoa da madrugada, voltando das suas aventuras elipticoetílicas pelos bares e boates sentia-se nas brumas de Rimini,  personagem de Amarcord, perdida à procura de afeto e carinho em qualquer braço de bruços  nos abraços de cada homem com quem passava as noites e

caminhava atônita, catatônica na neblina, buscando seus pares era  puta na estrada gelsomina buscando uma razão de viver suas razões de ser nas noites de neblina nunca entendera a vida como aprendeu desde criança, aquela vida de menina que crescia pensando no casamento, ninando bonecas, brincando de dona de casa, esperando na janela o tempo passar e com ele o encontro, quem sabe, daquele príncipe encantado que a levaria ao paraíso
crescera assim solta, menina onde é que você vai a essas horas? fazer o que na praça? menina não pode tomar banho de rio pelada com meninos, meninos são maus e vão te pegar e ela ria e ria e rindo levava a vida no balanço das horas, menina sabe que horas você chegou onde é que estava e ela enrolava e rolava de rir mijando e se cagando para aquele monte de xingos e de regras quero mais é que tudo se arrebente que o mundo se acabe em mel ou que tudo se foda tanto faz.
filha, pare de chorar se não te pega O bicho papão (e o nenê,recém cheirando a leite se enrola, de novo feito feto e se esconde,enrodilhado)
menina, fica quieta e não se junte aos meninos:menino é mau, e te pega e faz besteiras(e menina- flor que se abre delicada ao mundo descobre o imundo que se esconde no fundo de toda cabeça e se cala, e não se toca,
e se encolhe feito caramujo em seu caracol).

sou cabíria, perdida na noite menina que está na roda que não é cor de rosa,  e quero rodar na vida buscando sentidos novos para esta vida quero achar a rosa rara o pote do arco-íris, a moeda numero um,  quero o uno e o indivisível, quero a parte e quero o todo, quero tudo pois estou viva e quero

era sim, mal educada com os mais velhos que só sabiam meter medo na sua cabeça de adolescente menina cuidado com os meninos eles vão te estragar, não se entregue na mão de qualquer um, procure um bom partido e ela se lixando quero mais é me abrir para o mundo mundo vasto  varal de promessas, quero as estórias de cordel, as passagens para o infinito, as cantigas de roda num ritmo novo, tambores ensurdecendo os tímpanos nas noites ancestrais
:
riscos, correr riscos, nada mais. riscos, traços e rabiscos nos papéis de seda das pipas da infância quero mais é cair na gandaia, ela dizia, feito barata tonta, depois vemos no que dá.

sentia-se assim. felliniana. às vezes julieta em seus delírios psicodélitrópicos, em derramamentos de cores surreais arrebentando correntes, quebrando o ovo e buscando novos mundos, um demian redivivo ou como um  bergman, batia-lhe um desespero doido, doído, e ela pensava na morte, no fim, e se encolhia num canto e se adentrava em si mesma, alma escondida num corpo miúdo, observando a cena como se estivesse numa viagem astral.

Garota, toma cuidado com esses seus namorados:Homem é bicho atoa ele te pega e te come e se vai:(e a mocinha- flor em ebulição em livre viço e rebuliço de seios e sexo fervendo de desejo se recolhe no ardor do medo
e no escuro do quarto  ainda se toca,mas com medo. duo inferno e expurgatório:

 há salvação?)


e navegava infernos interiores e não estava nem aí para os outonos e primaveras que se desabrochavam à sua frente. era ainda apenas um a criança menina moça mulher se abrindo e já antecipando tantas buscas tantas perguntas  tantas loucuras vindas de suas leituras malucas de poetas  tantos baudelaire rimbaud   pessoas lautreamonts e  outros que ela aprendeu a amar no silêncio das bibliotecas, sozinha no escuro de si mesma.


senhora,muito cuidado ao caminhar assim, elegante pelas ruas e becos:olha os bandidos, olha os gigolôs que só querem seu dinheiro
vendendo sexo como se fosse pipoca.  e não carinho.

( assustada, reduz os passos, alonga o vestido,]esconde os peitos no decote e  se recata e corre para a igreja,ali sim, refúgio, sem perigos?:
:
ainda há salvação?)



oi-tee-nta anos.  que foram junto com os tempos,bonecas e cirandinhas,
os vestidos decotados,os arroubos de menina e o assanho de moça:
os tempos foram junto com os anos vermelhos de faces coradas e desejos
arredios e ardidos as mãos tocando o sexo de noite, às escondidas
buscando o gozo: e o pecado e a vergonha,e a salvação:ainda há salvação?) cuidado senhora, não saia assim sem o seu casaco
e o seu cachecol de lã a a morte é insidiosa e ela vem te pegar:

( cansada,de solidões e agouros um poço de velhas lembranças de tudo que ouviveu de tudo que  sentiu de tudo que  sofreu da salvação que não houve nem mais ouve: que venha

a insidiosa e que venha me pegar me carregando em seu braço
de volúpia e perdição:(mas a morte, insidiosa,nem esta vem pegá-la:
prefere outras, mais jovens,perdidas em vícios e frescor:

felliniana, um clown de si mesma, caminhando nas neblinas, nas brumas geladas das noites, nos descaminhos dos bares, no desconforto dos espinhos, nas estradas mais  escuras, sem samaritanos a lhe dar guarida, assim ela caminhava, e ia aprendendo da vida as lições mais bonitas... não só andar no claro na luz no mundo das vitrines e dos bonitos, mas sim entregar-se ao mundo verdadeiro, buscando, em cada um, aquilo que ela sabia que poderia aprender
:


para assim poder dizer, um dia: até que fui feliz.  

terça-feira, 13 de agosto de 2013

treze

sem sentido, diria eu,
em qualquer tempo
estarmos aqui assim
num dia assim
que fim? perguntaria
em meio ao caos
de um mundo malouco
caindo aos pedaços
quebrando em cacos
homens inúteis
até onde vemos
o que é isso aí?
é isso aí, mano,
vociferam vozes
embrigaadas
no tédio
que remédio?
sim, sentido, estar aqui,
e sem perguntas
sem respostas
sem repastos
sem luz, sem paz,
sem lembranças
os sonhos ainda existem
mas as musas se calam
ante o inevitável:
na esquina,
na curva do tempo,
ali na frente,
tudo pira
e expira a vida:
o que é a vida
esta força motriz?
quando os nervos gelam
e as visceras secam
resta a saudade
esta palavra louca
esta coisa inlúcida
e a dor das perdas:
sem sentido.

domingo, 11 de agosto de 2013

é foda!

a propósito do texto " entre a foda e a poda" do amigo zappa

o trabalho é foda
e poda o prazer
do fazer.
mas  foda não é trabalho
é do caralho foder.
a foda não é fardo
pesado, que deságua
em dores, cansaços
ou frustações
antes, é dardo
certeiro
num lance de alcance
a foda é prazer
de fazer
é sanha de amantes
a foda é roda
ao redor de
 quem amamos
ou desejamos na cama. é roda
que se abre, ao derredor da rosa
é prosa tesa, papos, cabeças ou não,
encantos, beijos roubados
(como antigamente)
mãos espertas,
peitos ariscos
a foda é não ter vergonha
de dar nome aos bois
bocas, peitos, bundas, cus, bucetas,
nenhuma palavra se esconde
tudo se expande
ao foder
e contra o poder
 a foda  não arrefece
só faz aumentar o prazer
que repousa no ócio

a foda não é trabalho
´d caralho é foder
até que os corpos suados
se  e4stendam, lassos
do prazeer

a foda é a fé
na vida
é a força motrix
nutriz
é semente da flor:
a foda não é trabalho
é p-razer
com amor
sem amor
é celebr-ação
do mais sagrado
do mais profano
]do ser.

eia, a foder!

terça-feira, 6 de agosto de 2013

exatinexato

exato.
no ex-ato
contínuo
exalto-me
e continuo contigo
contíguo a mim

inexato.
hesito entre
o êxtase
e o êxito
neste este
oeste
sem nortes

morte é o fim?
amarte é a meta?
qual é o mote contínuo
do universo?

exato. te disse
e toquei tua mão
como as cordeias
de um banjo:
acordas em mim
um riso antigo
de anjo



terça-feira, 16 de julho de 2013

êx-tase

,nada. tudo deságua manso
em profundos deslizes
aumentos mortos
tudo. o que é tudo
o que é o mofo
que se infiltra,lento
sorrateiro e torto
pelos pelos corpos
carpos
cardos
carrapatos túrgidos
do sangue das musas
mofo mofando mixando
as chances
de ser de novo
o novo
o antigo medra o medo
ataca as úvulas
tesam
as uvas secam
as peras na fruteira
mudas
lá longe a nona
de ludwig ressoa
convidando ao êxtase:
prá onde levaram
as ex-cadas do céu?

segunda-feira, 15 de julho de 2013

BRILHO DA CARNE



iris -descendo brilhos crus
em carnes fastiadas
verdeflamejantes arcos
encarnados:
a carne,mesmo putrefável,
capta luzes 
como sóis 
de vagalumes
,e no cerne 
traduz
a grandeza das gentes
entregues
à própria sorte

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Nona


não sabia desde quando tinha aquela atração louca pela nona de Beethoven.ahava que
tudo tinha começado quando, lá pelos idos de setenta e um, viu aquele filme maluco laranja
mecânica do Kubrick onde Alex e seus drugues barbarizavam tocavam o terror embalados
ao doce som da ode à alegria e aos movimentos cadenciados da nona. Lembra que logo
depois de ver o filme, isso com vinte e um, buscou a leitura do livro que originara o filme e
ficara ainda mais fascinado com aquele universo criado pelo burguess, com todo aquele novo
palavreado aquela junção de tantas línguas para formar novas nomenclaturas e renomear os
bois digo todas as coisas e ele pensava porra esse burguer e ele confundia com hambúrguer
pois achava tudo parecido esse cara era o bicho criando a todo aquele universo paralelo num
mundo futurista que podia ser agora com tanta ditadura tanto totalitarismo e aquela música
de Beethoven coro de anjos exultando o espírito e qual era afinal a mensagem? Abaixo a
violência gratuita abaixo a ditadura abaixo a mesmerização a coisificação e viva a revolução
dos costumes e a individualidade num mundo de bonecos e robôs? E ele sabe já se passaram
mais de quarenta anos e até hoje ainda não saquei de verdade a mensagem daquela laranja
que não apodreceu pelo contrário continuam hoje aí vivas as contestações as ilusões os véus
de maia tapando as mentes todas essas primaveras estourando por aí e

ficava horas a fio ouvindo as sinfonias de Ludwig van parecia até o Alex e flutuava no azul
do quarto quando as notas alcançavam sua alma e ele se pegava pensando no longo da vida
no louco da vida nas ânsias da vida tudo isso ali naquela sinfonias e ele via à sua frente o
alemão de braços abertos a reger suas emoções e ao mesmo tempo também via Ludwig
van no momento da morte esmurrando o ar arregalando os olhos e caindo sobre a cama
sem entender o fim: afinal o homem estava surdo há muitos anos e criava maravilhas que
ele jamais conseguiria compreender integralmente em todas as nuances e de repente pum
estoura-lhe o coração e o fígado dizem que morreu de contaminação por chumbo que bebia
muito vinho que era doente desde novo mas nada disso impediu sua genialidade

ficava horas a fio sozinho no quarto ouvindo a nona e não sabia fazer nada mais além disso:
sua história era mais do que manjada e sua vida não daria um romance que nem a de Ludwig
van. Sua vida era uma vida de mesquinharias de pequenos atropelos de relacionamentos vãos
de empregos mal enjambrados de amores mal resolvidos de filhos mal educados enfim sua
vida não daria um romance? Afinal qual a matéria prima dos romances que não as dores do ser
humano comum perdido em meio ao caos às brumas

perdido e pendido entre tantos caminhos e escolhas entre eros e tanatos entre virtudes e
vícios entre freuds e reichs entre divãs ou viagens artificiais afinal o que é que move o mundo
o que é que move os homens nesses caminhos tão desarvorados tão sem sentidos qual é o
sentido das vida afinal e ele fica ali em frente ao vazio do mundo em frente àquela parede
caiada de branca tingida de ausências caiada de solidões ouvimndo ludwig van e relembrando
ao mesmo tempo cenas da laranja mecânica e sua tentativa vã de explicar a dicotomia entre
individualidade e solidariedade entre vicio e virtude entre discernimento e confusão mental
entre livre arbitrio ou contenção dos sentidos: será que o caminho seria o desregramento

dos sentidos c omo os poetas românticos que se entupiam de ópio e absinto e vislumbravam
outros mundos como um castaneda que abria portas regadas a mescalina será que o caminho

seria a elevação espiritual através do êxtase religioso como tereza e seus cantos de amor
desmesurado pela divindade como os brâmanes e seus desligamentos do real para alcançar
nirvanas

pensa logo em kurt, outro poeta desesperado e roquenrol e em mais uma dúzia deles todos
que partiram cedo demais na busca do paraíso será que pasárgada seria esse paraíso tão
buscado um xangrilá prá lá de marrakesh?

ludwig van. lhe dá esse poder de concentração de meditação de levitação ludwig jamais
poderia supor que sua música divina viesse a se transformar em trilha sonora de analises
espiriturais de viagens carnais de

de embalos sensoriais sim já havia ouvido a nona em diversas festas de som eletrônico é ainda
freqüentava essas baladas malucas que duravam noites todas loucas tribais e ludwig rolava lá
era possível?: era pois ludwig cabia em todas as suas horas e ele pensava

(aqui entra o narrador já preocupado com o excesso de verbalização do personagem com tanta tautologia que não
leva a lugar algum porra afinal conto não tem que ter uma história um fio condutor um início meio e fim afinal tem
que contar alguma coisa)

E ai,senhor personagem sem nome que vou de L/V, vai ficar aí nesse divã revisando conceitos
desfiando memórias de não acontecenças brigando com as palavras e não vai contar nenhuma
história- assim os leitores não agüentam e deixa logo logo de ler seus escritos. Cê tá parecendo
um personagem à procura de um autor e coisa de pirandello

Ou seria um autor buscando personagens plausíveis para figurar em seus contos personagens
iguais ao da vida real a vida imita a arte ou a arte imita a vida é uma simbiose louca e ei e
quem disse que conto tem que ter tanta ação tanto movimento tanta história?

(num aparte, o personagem se revolta e tece comentários sobre o texto e se diz manipulado e direcionado pelo
autor)

Olha veio eu queria ser detentor do meu destino e não um fantoche um títere manipulado
pelas suas convicções sobre o que é literatura- na verdade isso aqui pode não ser um conto
pode sim ser um anticonto, um dramático canto de cisne que não enxerga frestas nem
brechas numa massa de corpos que giram nos universos e que não vê portas se abrindo mas
despenhadeiros esfacelando sonhos engolindo sapos estrelas candentes de promessas não
cumpridas de vontades relegadas de sentimentos negados e

(aqui o narrador retoma o fio)

afinal o que é estar vivo? o que significa estagnar aqui,assim, num dia assim,in extremis como
Bilac contemplando e ouvindo estrelas e os filhos todos crescidos pelo mundo nem sabe
por onde andam e a as duas ex mulheres sempre nas barras dos tribunais buscando mais e
mais e ele ali, sozinho de novo, solitário contemplando paredes brancas caídas de solidão
e de desespero comendo pizzas ele que já fora vegetariano macro convicto lá pelos anos
setenta hoje restam-lhe tatuagens pela pele flácida rugas destruindo as linhas do sorriso e

criando marcas indeléveis muitos dizem é vida mas ele sabe que não na verdade é o caminho
irreversível para a solidão e para a ruína

será que vai morrer um dia assim como Ludwig van socando o ar e arregalando os olhos pra
encegar melhor o vazio que se abrirá diante dele? será que vai conseguir encarar o dragão do
caos ele o santo guerreiro da luta contra a mediocridade e os lugares comuns afinal vai ser
tragado pelo lugar mais comum, pela vala comum?

será que vai ainda descobrir alguma coisa nova que lhe traga prazer e alumbramento, uma
epifania oculta na música de ludwig, uma sinfonia anônima e soterrada em algum canto da
memória?

ele não sabe de mais nada.só queria ficar ali, ouvindo a nona, até que a imensidão abra
seus braços e o embale embolando suas pernas enroscando-o como feto e quem sabe?
devolvendo-o ao mundo num jato de luz?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

profano


tão profanamente poético
esse desfazer-se em teias
esse desconstruir-se
em cacos
buscando a unidade
e os círculos concêntricos
do indivisível:
eu, tu, eles,
nós: seremos os nós
em decifráveis crus
urdindo a vida
ou os cegos sóis
que negam brilho
e fogo?
jogo logro jogro
joio
e falsas  joias
em meio ao trigal)
:
profanamente poético
esse estranhamento
esse entranhamento
esse humanuser:
onde nos leva o espanto
em asas de que cavalos
de inquietude  do espírito?
e

domingo, 7 de abril de 2013

desquadrilhas


eu não acredito em juras de amor.

pelo amor de deus!

eu não acredito em deus.

tum tum tum tum tum soou como se fosse um toma

distraído.


Por um desses caprichos do destino Noel sobreviveu a Carmem. E Carmem sobreviveu a Noel, isso já foi dito antes,
lá pelo narrador. Noel não...parece que estava predestinado a morrer daquele câncer no fígado, tanto que Carmem já
ironizava, ouvindo rorô e bebendo todas eu sou a última a lhe dizer adeus tum tum tum mas Noel sobreviveu. E assim,
meio que por um deseo de ser solidário com os sofredores, os desesperados, procurou um desses SOS vida que rolam
por aí, linhas telefônicas para consolo conselhos e afetos mesmo que simulados quem sabe salvar vidas como a dele
fora salva por uma mão invisível deus?ele também não acreditava em deus. E nem mais em Carmem. Mas a vida
continuava e ele acreditava na vida.

E foi numa dessas noites geladas chovia prá caralho e ele nem queria ir para o seu posto de salvador de vidas por
quaisquer vias que ele conheceu aquela moça que ele não sabe porque mexeu com ele ela chorava ao telefone e
dizia que estava navegando um mar de pesadelos sangue vermelho escorrendo do teto lama nos lençóis pés
afundados em lodos e podres e ele ouvia tudo e nem sabia o que falar é claro quem essa maluca está atolada é em
drogas essa onda esse barato e ela dizendo acho que vou morrer não sei mais o que faço tem um monte de monstros
me espionando qual o seu nome onde você está tem alguém com você e ela respondia meu nome é Cristina c. to
sozinha quer dizer eu e meus monstros que me espiam e esperam a hora de me devorar to aqui na minha casa nos
jardins anote aí o endereço e ele paciente ia anotando e notando de repente que aquela voz em vez de piedade lhe
dava tesão e pensava porra eu preciso conhecer essa mulher acho que vou pessoalmente prestar socorro e Carmem?
Carmem continuava a analisar vísceras alheias mas não sofria nada com o que via e ouvia cânceres tumores choros
lágrimas desesperos para ela nada queria dizer nada pois estava trespassada das dores da vida e não se logava nas
mortes alheias nem prá sua ela ligava enquanto se afogava em bebidas e em blues suas noites eram um descaminho
até os bares mais perto de casa onde ficaaaaava até altas horas buscando conforto e prazer no calor dos copos, às
vezes se deixava levar por algum cara até por outras mulheres para sentir um pouco de suor naquele frio que tomava
conta de sua vida havia muito tempo desde que Noel a deixara naquela noite Carmem notou um sujeito estranho
sentado numa mesa perto da saída tinha um ar assim, uns olhos parados, uma cara de intelectual manjado uns olhos
arregalados e parece que nem estava ali- sentiu-se atraída por aquela figura parece que saída de um conto de
Lovecraft ou de Poe todo vestido de preto e ela pelo contrário de vestido vermelho boca pintada uma Carmem de bizet
dramatilirica etílica rodopiando a bunda e os peitos ah se eu fosse a carmem de Bizet ela dizia e ficava só por isso mas
naquela noite sentia-se operística- muito drama muito lírica muito éter muito álcool por isso sentou-se na mesa com
aquele cara com cara de malucão e perguntou assim na cara dura ei tudo na boa?e o cara olhou prá ela com os olhos
ainda mais arregalados e como?eu conheço você sua maluca e ela disse não mas eu quero te cohecer e ele sou
Gregório Gregório m. e ando muito solitário muito doido e nem sei mais o que fazer da minha vida ei o que você faz e
ele sou escritor frustado poeta despirocado acho que não sou nada sou apenas um sopro de vento um cisco um risco
no breve espaço entre o tudo e o nada e ela achou aquilo lindo nossa você é mesmo um poeta e ele você faz o que?
carmem ah sou patologista quer dizer ei eu sei o que é patologista sei mas você não sabe da doideira
que é ver
órgãos e órgãos humanos deteriorados carcomidos destroçados e ver as caras de desespero e de dor daqueles que
não sabem que o corpo é finito que a beleza é efêmera que a alegria é inútil e passageira e que a dor abraça a todos
com a mesma garra e a mesma gana ei isso é coisa de poeta seu nome qual é?carmem porra que legal assim de
vermelho me lembra a de Bizet e ela adoro a Carmem de Bizet adoro blues e musicas de fossa mas de que estamos
falando afinal? Hoje é sábado to de folga e não vim aqui prá chorar nem prá lamentar dores minhas e alheias eu to
aqui para beber e farrear e aí desce mais uma? E eles ficaram ali,como velhos amigos noite adentro, tomando todas,
ele já com os olhos menos arregalados olhava prá ela com expressões de carinho e sentia uma coisa no coração que
lhe aquecia alma engraçado que que seria aquilo

Noel não se conteve ao ouvir a voz chorosa da moça do outro lado da linha e lhe disse vou até aí prá te ajudar e ela
mas venha rápido senão os monstros vão me engolir e ele com pena daquela voz aprisionada em si própria como
seria essa Cristina c. c de que? de cansada de castigada de crucificada pelos seus próprios medos e ele acelerava o
carro tava longe dos jardins tava na periferia mas de madrugada era mais rápido o trânsito e ele finalmente chegou
ao endereço o porteiro quis criar caso mas ele interfonou e a moça de voz miúda mandiu subir ele encontrou a porta
fechada teve que arrombar e quando entrou no quarto da moça de voz miúda Cristina c. estava jogada sobre a cama
fios escorriam de sangue ver.melho sobre os lençóis brancos e o chão era um marrevolto de lama e flutuavam sombras
sobre a cama parecendo querer a moça a qualquer custo e então Noel deu um berro CHEGA que assustou até as
potestades do outro lado do universo CHEGA porra deixa a moça em paz naquele instante por um momento parece
que um ar limpo penetrou o quarto uma aura de luz luminou as caras de Noel e de Cristina c. e uma música suave
tocou ao fundo aumentando aumentando e culminando uma ode à alegria e os dois se olharam nos olhos( paercendo
uma cena de contos de fadas mas é intencional) e descobriram semelhanças entre seus desesperos

Naquele impreciso momento, em uma outra parte qualquer da cidade, outros dois também encontravam semelhanças
entre suas dores e desencantos e se olhavam nos olhos e gregorio m. disse prá Carmem vamos pro meu apartamento
quero dançar uma valsa com você nós dois muito doidos vamos brincar de touro e toureiro você vai ver vou te agarrar
e trepar até que você desmaie debaixo de mim vamos lá e Carmem por que não? Vamos lá

Nesse ponto o narrado saí de cena e deixa os dois improváveis casais encontrarem-se, tatearem-se,
tocarem-se, teatralizarem-se, poetizarem-se buscando o encontro perfeito onde vão soltar os bichos e as dores e,
pelo menos naqueles momentos, ser felizes(felizes ou saciados?) esquecendo-se dos tuneis de lama, dos monstros no
escuro, dos personagens malucos, das biopsias, autopsias, lamentos, uivos e berros de dor

E de desencantos da vida

E o narrador se dirige ao outro narrador, de quem apropriou seus personagens, alongando-lhes as estórias
com uma complacência e uma bondade muito suspeitas, e lhe diz:

Camarada zappa, e aí, todos não tem o direito a um final feliz?

sábado, 6 de abril de 2013

três e trinta e cinco

praia de iracema
três e trinta e cinco sol a pino
um cara italiano, meio calvo,
meio gordo,
meio cara de trinta
e poucos anos
dá um salto no ar
um salto triplo?
sem olhar pro mar
se arrebenta
como as ondas
na arrebentação:
foram mais de 30 metros
de queda livre
e por sua cara não passaram
filmes ou músicas
foi um salto só:
sua história, ninguém sabe
tava em um hotel qualquer
e de lá saltou 
para o vazio
como uma esfinge muda
mas não muda seu rosto 
arrebentado no asfalto:
tá lá um sorriso
congelado
em meio ao pó do asfalto:
terá ganho o nirvana
ou chegado à pasárgada
do manuel
onde fincou bandeira?
não sei. só sei
que seu sorriso 
congelado
guarda enigmas
que só estrelas
poderiam decifrar

quinta-feira, 4 de abril de 2013





Des palavrares

(escrito para os amigos de prosa e poesia
 Fernando Ciscozappa e Adriana Godoy)






Subverter o sentido das palavras
Dar-lhes asas
Para que voem segundo
Seus próprios desejos
E como
Num indicionário
Desdizer as coisas
E dar-lhes novos nomes
Brincanteiras
Brincrianças
Num jogo
Onde amor não é amor 
e pode
Ser amor romã aroma
De amora
E felicidade feliz
Cidade idade ida
Ou vindas asas
E rezas
prorosas
Úteros úberes
Leite esbanjado
De tetas plenas
De ocio criador. 

Dar cor às palavras
E matizar os verbos
E sujeitos
À chuvas e tempestades
E trilogiar sentidos
E ser azulvermelhoroxoamarelo
Ipês paineiras flamboyants
Primaverando luzes
E luzindo 
Conceitos.

Dar cheiro às palavras
De mato, de bosta de boi, 
De trilha no meio do nada
Cheiro de Passarim voando
Solto
Cheiro de cama desfeita
De corpos lavados
A lavanda
Cheiros de bee-ijos
Nas vara ondas
Cheiros.

Dar toque às palavras
Truques, tiques
E torques:
Tua mão em minha pele
Tua pele em meus dedos
Teus dedos em meus
Cabelos
Teus cabelos em meus
Lábios
Lábia de amantes:
A palavra é o toque
Na toca dos sentidos.

Dar voz às palavras
E decifrar-lhes as carnes
E destrinchar-lhes os nervos
E descamar em camas
Seus dúbios sentidos
Em poemas lúdicos
Sórdidos
Sólidos bólidos
Arremetidos ao léu
Ao céu
Como pontes poentes
De sóis caracóis
Cornucópias ácidas
De sonhos antigos.

Dar ouvidos às palavras:
Soar como címbalos
Símbolos noturnos:
Ouvir passarinhos
E meninos cantando
Nas antinoites antigas
tinta nas paredes
Brancas de cal:
As marcas das moscas
Que morreram a tapas
Zumbem em meus cabelos
E são pura poesia
Que se solidifica em versos
Tijolos líricos
Tabletes elétricos
De poesia tônica:

Ah- as palavras
E sua fome árida
De escrever bandeiras
Em entrelinhas dentes

Subverter as palavras
É indicionarizá-las
Em novas idéias
Que não se traduzem:
É incitar momentos
De poesia plena
Do brilho de sol na folha
Tecendo urdiduras
E filigranas múltiplas
Em tecidos de sonho.

Palavras:
Pérolas impares
No diadema dos dias
Que a ostra
Ainda não inventou

segunda-feira, 18 de março de 2013

cadê pasargada?


Rosnamos todos, lobos ou cordeiros
buscando o inacessivelocino
de ouro
sonhando as escadas
loucidas

rumo ao flamejante reino
dos fazes de conta
a poesia
às vezes mar de rosas
às vezes merda & morta
é que nos guia:
cadê pasárgada, manuel?

sexta-feira, 8 de março de 2013

beleza inversa

,e cada vez mais, como uma certeza
muda,
como uma beleza inversa
perversa
eu sinto
e pressinto que tudo
leva ao nada:
ao nada incontestável,
ao nada absoluto
ao absurdo do não ser
metafísica à parte
sinto-me nadando
em circulos inconcentricos
e nem egocentrico sou:
doo-me aos outros, cuido, zelo,
amo,
declaro-me
e me divido
para tentar somar:
só o mar, com seus mistérios
e vidas submersas
pode absorver estes delirios
e absolver-me destes desvarios:
uma vastidão 
é a dor
que me assola
e cada vez mais,como uma certeza perversa
ou uma beleza muda
nada muda: nada
é o caminho em frente  
 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

tempos


O relógio liquido
não conta as horas
que passam.
É um pássaro
apenas
suas penas se liquefazem
como liquens
com o passar
do tempo afetivo.

O relógio louco
detona flores
gelatinosas
no arco da memória.
Aide-memoire
a nos lembrar que o tempo
não existe assim, sozinho:
depende de nós
o seu desenrolar.

O relógio mole
se desfaz
e respinga rosas
e odores
de prosa
e poesia
sobre as curvas do tempo:
matéria prima de sonhos
surreais.

O relógio fantasma
registra passos
lassos laços
os compassos
das odes ao espírito
E os cânticos à matéria
de gentes que foram,
que são, que virão.
gentes que são
causa e consequencia
de qualquer poesia.

O relógio poema
liquidifica-se em nuvens
brancas de algodão
quando tocado
Por inábeis mãos:
suas cores são palavras
tácteis
são fractais de tempos
que flutuam, indiferentes
na névoa da eternidade:
só o poeta é capaz
de tocá-las
e transmutá-las
em coisas tangíveis.


domingo, 6 de janeiro de 2013

kama-surta



muitos anos depois, ao se descobrirem os guardados de nina n. que permaneciam ocultos em baús lacrados no quarto de despejo da casa onde viveu um dia e que sua neta hoje fuça com avidez querendo encontrar histórias daquela vó maluca que dizem comia homens como quem devorava biscoitos com chá lá pelos idos dos mil e novecentos e não sei quantos
porra, um diário, a vó escrevia um diário e era a mão naquele tempo não nesses blogs expostos de hoje em dia nesses feicibuques exibicionistas em que todos se expõe e a vida íntima é dissecada e cagada como numa ida ao banheiro era de verdade tinta no papel lacre na capa porra que legal deixa eu ler o que ela dizia primeira data 25 de abril de 1998 
Do diário de nina n. vinte e cinco de abril de 1998
hoje é meu aniversário tô completando dezoito até que enfim esse tempo todo tenho estado em brasa esperando conhecer mão de homem e nem me esforço mais prá esconder minha vontade de me agarrar ao primeiro rapaz que me aparecer quero sentir o cheiro do outro corpo se agarrando a mim sei que sou linda ainda que me enfeie por obrigação de obediência à mãe sei que sou gostosa ainda que aperte meus peitos durinhos nessa blusa folgada e sem corte prá não assanhar os rapazes mãe dizia filha toma cuidado eles só querem se aproveitar e abusar de você e ela pensava:comer, eles só querem me comer, e  é o que espero deles: que me comam, que me fodam, que me enrabem, que me transformem em seus objetos de prazer só que muito mais do que eles eu é que quero tê-los todos aos meus pés amantes saciados e felizes amarrados presos ao meu laço ao meu cabresto bestas enjauladas, que eu
merda folhas rasgadas, arrancadas , várias folhas, a velha  era foda prá caralho  e eu que pensava que naquele tempo as meninas se guardavam virgenzinhas pro marido aquela coisa de cinema de honra e etc e tal, mas
mil novecentos e noventa e oito- nina n. se recosta na cadeira de balanço de sua avó- está estirada, o corpo todo jogado para trás, o corpo um turbilhão uma fornalha um tesão-peitos salientes, coxas longas e grossas, boca escancarada, cabelos jogados sobre o rosto mamãe não está papai  pro trabalho vovó bem vovoó .. vovoó.. - velha, esclerosada, do outro lado da sala tecendo crochê nem vê nina que acabou de escrever no seu diário as anãotações do seu primeiro aniversário de mulher: dezoito anos, mil idéias na cabeça, uma festa, vou dar uma festa, vou chamar rapazes vamos sair por aí quero tudo que ainda não tive quero a loucura a respiração ofegante a boca na boca  sentar no colo dos meninos sentir os paus duros varando as calças e tocando –me por cima das roupas em brasa que não demorarei a tirar
nina n. sonha com devassidões, com histórias pornográficas com coisas que ela andou lendo quadrinhos de valentina, escritos   de apolinaire,  de bataille, lautreamont como? você anda lendo essas porcarias menina? catecismos de zéfiro menina que te boto de castigo você vai se confessar hoje contar ao padre essas e outras vou queimar todos esses livros malucos história de um olho as onze mil varas cantos de maldoror   e outras putarias descaradas que chamam de literatura libertária nina você só tem dezoito anos e
desde pequena estava acostumada a ler aquelas narrativas, que pegava escondido nas bibliotecas, sem que o pai soubesse, sem que nem as bibliotecárias soubessem  inventava identidades, idades, capacidades e subtraía livros eróticos como a querer se desvendar para o mundo se desvelar para os homens se entregar aos prazeres frementes de sua carne que tremia tremeluzia feito estrelas no cio no céu de tantas bocas
nina n.dezoito, sentia-se dona do mundo, dos mundos, dos seus mundos e os homens a esperavam do lado de fora daquela casa daquele castelo onde ela se sentia rapunzel aprisionada  injustiçada, sem príncipe que viesse lhe pedir as tranças e fodê-la como ela queria e imaginava nas noites longas e mal dormidas desde a adolescência nas indecentes brincadeiras de meninas se tocando sentindo o gozo das bucetas em brasa e a ânsia doida e doída de devorada por bocas sedentas.
nina,vamos dar um rolê por ai? na prainha é legal, rola um som, tem uma trailers de cachorro quente e bebidas e muito espaço prá gente encostar o carro e namorar... você quer namorar comigo, nina? O primeiro contato o primeiro cara o primeiro caralho de verdade a lhe tocar as coxas a aquecer sua boca ela sonhando ela pensando ela na dúvida ela ele eles e aquela lua linda e um carro velho e rolou a primeira trepada, o primeiro macho, a primeira vez que ela nunca esqueceu ele foi bruto foi tosco gozou rápido demais mas ela também gozou e ali começou a aprender os segredos de dominar os homens: ali aprendeu a arte da manipulação dos músculos  para prender e soltar os homens, quando um ou outro lhe interessasse
merda cadê as outras folhas deste diário quem rasgou ou arrancou de propósito a neta xingava sem saber a quem pois queria saber do resto das confissões da vó mas se conteve e umas 50 páginas depois encontrou outras anotações  e coisas estranhas que parece começaram a acontecer com nina n. naqueles longes anos  mil novecentos e noventa e tantos
hoje, 19 de novembro de dois mil já tenho vinte anos e mais de vinte homens já passaram pela minha cama o último deles, um italiano marinheiro que conheci  numa boate me veio com uma conversa de transa tântrica uma foda espiritual dizia ele você nunca viu nada igual é coisa de gozar horas seguidas em delícias inimaginadas eu hein?ela disse que papo é esse,garoto,e ele disse ainda tenho um livro que quero lhe mostrar o camasutra já viu falar e ela  não que livro é esse e ele  um livro indiano sânscrito de sexo e das inúmeras formas de gozar  e ela quero ver.
e ali sua vida começou a mudar do sexo comum feijão com arroz para coisas inusitadas ela ficou com o livro e dispensou o amante que se foi assim que vieram outros e com cada um foi treinando posições malucas e impensadas e certas coisas começaram a tomar conta de sua cabeça já não lhe bastavam mais as fodas os arroubos os gozos os caralhos latejando em sua buceta  queria mais muito mais queria posse total dos machos e quieta, analisava e estudava cada passo, armava os botes e se esquecia pelos cantos, às vezes, semanas sem trepar buscando um caminho
a neta não sabe ao certo o que acontecera pois o livro de novo com páginas arrancadas como se alguém quisesse ocultar alguma maldição algum segredo cabeludo algum distúrbio a neta nem sabe se sua vó tinha se casado ou quem era o seu avô sua mãe nunca lhe dissera isso nem lhe falara sobre a vó essa mulher misteriosa e mágica que lá pelos idos de mil novecentos e noventa e tantos começara uma carreira vitoriosa e devassa de devoradora de homens
poemas: me descobri poeta, e a cada cara que me come escrevo um poema a ele dedicado dizia a uma única amiga que privou de suas intimidades quando jovem: e os poemas, fragmentos deles,  ainda adornavam o diário e davam conta de seus  múltiplos parceiros em orgias dignas de Baco e Dioniso e a amiga ria e se excitava com aquelas descrições de fodas  nos mínimos detalhes e com elogios ou desaforos conforme o caso e conforme o homem
nina n. uma certa noite lá dos anos dois mil e poucos já doutora em posições do camasutra e já escolada em lições de como prender e manipular os homens do modo que quisesse já não mais se satisfazia com esses gozos materiais com esses orgasmos comuns de mortais e começou a descobrir o caminho a seguir em suas novas investidas isso ela já com mais de 30-corpo perfeito peitos bunda coxa buceta cara tudo de uma beleza  renascentista um Vênus saindo das águas algo assim como boticelli reinventado
mas ela um dia se sentiu diferente, numa noite de amor com um parceiro jovem, afoito e escorregadio ela sentiu um cio diferente e uma coceira que lhe crescia pelos pés, pelas coxas, sub-vindo pela bunda e por todo o corpo- e ao se olhar no espelho, no auge do sexo,ele, o macho se estatelou na cama de susto e de nojo: debaixo dele, com oito pernas escancaradas e uma buceta animal estava uma tarântula- uma viuva-negra, uma vulva de veludo a sugar seu caralho a sugar seu quadril suas coxas  suas pernas, a devorar o seu corpo inteiro no calor de um orgasmo inimaginado
a neta procura no diário de nina n. mais informações sobre a vó que desaparecera sem deixar notícias- seus pais há muito não sabiam dela pois morava sozinha  em outra cidade- marido, não tinha, amantes, eram passageiros. amigas, poucas, que não sabiam notícias ficou louca uns diziam e se mudou foi presa por assassinatos diziam outros mas ninguém sabia. De nina n.
sabe-se apenas que surtara e sumira no mundo. Nem restos foram encontrados do último amante que a esposa procurou como agulha num palheiro ajudada pela policia. apenas sobraram em seu apartamento algumas fotos de uma bela mulher, com a vasta cabeleira negra adornada com uma camélia branca, uma billie holliday, uma vida dramática, uns  estilhaços  de poemas páginas rasgadas de um diário que estavam espalhadas pelo chão e ainda havia versos rabiscados em sangue na última página que não fora arrancada
lá em 2013 a neta se assusta e se assanha com a sanha dessa vó: na última página uns versos escritos em sangue em língua estranha

propter quod amat
 mactaverimus amoris
 iugum absurdum

 e pelos negros grudados no visco trazem-lhe dúvidas mais do que certezas:
onde andará nina n?