segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

sobre/nomes

o poema fala
a música
dos seus próprios nomes.
Nominar o inominável
Gravar o indelével
Penetrar o inescrutável
é querer dar nomes
aos que fazem da palavra
sua lavoura diária.

Ouvir bilac, de seu parnaso,
ouvindo estrelas
in extremix
ninar bandeira
com seus versos
meninos
Roubar de drummond
a memória do ferro
das minas que não
há mais.

Cantar com cecília
as canções eternas
daquilo que é efêmero
e com adélia
os cantos sacro-profanos
deixados nos panos
de prato, das canções.

Sofrer
com florbela
Com plath,
Com clarice
as dores femininas
do amor
não amanhecido.

Penetrar nos infernos
em todas as estações
nos odores dos jardins
de baudelaire
e amar as musas loucas
de appolinaire
e subir aos montes
e descer
aos vales
e savanas
com verlaine
e rimbaud
tudo que se amou.

Como lautreamont
gozar os gozos impensados
e se atirar às alturas
e às profundezas
como blake.

Nominar os sentimentos
num onomástico rol
de onomatopéias
que possam traduzir,
para cada poeta,
suas epopéias
na busca
pela palavra perfeita
a definir
suas vidas em sonhos
num mundo imperfeito.

Difícil feito.

Blablablá

o que há
no espaço
entre o beijo
e o abraço?
o amor é longo,
é curto,
é um surto, que cabe
no ritmo de um respiro.

é um suspiro, o amor,
que vidra o olhar
e penetra a retina
amarfanhando a rotina
como se amassam os lençóis
ao calor dos corpos nus
aos sóis de cada dia.

pura magia.
puro encantamento
esse momento
em que estamos,
estáticos,
almas nuas:

um cromo
a se guardar para sempre
como vivas sempre-vivas
numa página de diário.

esse momento é o que há.
O resto,
bem, o resto
é blablablá.

assim é, se lhe parece

assim é,
se lhe parece:
prece
súplica
revelação
a poesia, que penetra
surdamente
no reino da imaginação
e busca
em silêncio,
em sussuros e cicios
a alegoria e a metáfora
da sua própria essência.

Poesia. pão
chão
que se pisa sobre o vento
tão
silenciosa
quanto o canto
quanto o pranto
que mesmo à menor vertigem
provoca arroubos
e assombros
de tambores,
soando
no peito do mundo.

nos quatro cantos
do mundo.

poesia
força motriz
matriz de idéias
matiz de aquarela
arcoírica
anarquilirica
nutriz
de seios túrgidos
de leite bom.

poesia
aquela que se busca
no fusco-fusco da tarde
que arde,
fogueira em brasa
ou em brisa refrescante
como hálito de fadas.

faz da poesia sua casa
sua festa
sua fresta
para o infinito:
faz da poesia
a matéria iridescente
incandescente
do seu silêncio
e do seu grito.

exercí (cio) da palavra

sei que sou pouco lido
ou quase nunca lido.
é com a palavra que lido
e não me intimida
este falar
para ouvidos surdos
ou para urzes bíblicas:
a palavra é minha lida
minha vida
é lapidá-las
como jóias raras
e tecer-lhe iluminuras
em tessituras
de sonhos
urdindo-lhe tramas
e teias
veias
de veludo
e âmbar
na maciez
de pétalas
e pelicas.

a palavra fez em min
sua morada
e minha alma
é a sacrossanta casa
da poesia
que arrepia a pele,
que brota,se avoluma
como flor,no cio
de explodir
em fruto.

por isso, não me assustam
os versos não lidos
Os olvidos
os verbos não ditos.
assustam-me, sim,
a grandeza e a força
da palavra
desta lavoura arcaica
que, no entanto,
sempre é preâmbulo
do novo:

palavra-ovo
em explosão
de vôo.