domingo, 8 de fevereiro de 2009

CLAROCANTO

"Tudo é uma questão de manter
a mente quieta
a espinha ereta
e o coração tranquilo"
Walter Franco



Em silêncio
contemplo a quietude
a beatitude
das coisas claras:
o sol adentrando
os quartos
e espantando a noite
desenhando nas paredes
mosaicos de luz.

As paredes brancas
são meu espelho
a transparência
da minha alma

O silêncio murmura
em mim
suas exigências:
estar assim
mudo
assim
quieto
assim
zen
assim sem
sobressaltos.

Como pássaro
no raro instante
do pouso.

Um tributo à poeta do mar e das claridades

Deixai-me limpo
o ar dos quartos
E liso
o branco das paredes.
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio.

Sophia de Mello Breyner Andresen
De "Livro Sexto II" (1962)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

C-O-R-R-E-N-T-E


foto: dentro de un viejo ladrillo III - flickr/Flavio camus


somos todos
farinha
do mesmo saco
cacos do mesmo
azulejo
beijo de toda boca
bica de frescas águas
mágoas de muitas dores
cores de todos os tons
sons de todas melodias
meio-dias de todas as tardes
mar de todos os oceanos
anos de todas as vidas
dúvidas de todos os destinos
vinhos de todas as vinhas
linhas de toda urdidura
curas de todas as dores
flores, florestas, cores,
cuore, cordis, corazon
couer, heorte,
sempre fortes
somos cor e ação.

todos somos
sumus,
húmus vivos do universo
versos de todos os poemas
temas de todas as musas
fusos de todas as rocas
tocas de todos os bichos
nichos de todos os santos
cantos de todas as raças
graças de todos os deuses
berceuses
adeuses de todas as mãos.

somos elos
da cadeia universal
de qualquer fé
raça,graça,
reza,
leveza,
beleza
e mansidão:
o mundo é vasto
o tempo
é nosso irmão!