domingo, 30 de maio de 2010

janelas

ela. ele.
a janela
pós tempestade.
a lua
clarear caminhos
adivinhar carinhos.
mas a mão
já não
se lembra do gesto
do gosto
do outro. E o embate entre eros e tanatos absorve os corpos.

pós tempestades
ciclones interiores
não mordem a isca
não se rendem à lua
e seus apelos.
No teto, mimam os gatos, a tanatos indiferentes
em seus balés barulhentos.

a lua a chuva a lua
a mão fria, na luva,olhos foscos, corpos frouxos
e os caminhos
a se perder de vista
na vastidão.

ele. ela.
quantas janelas abertas
para a imensidão?
mas eles já não.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

intraduzíveis


imagem: Jonno Witts/flickr

um

finda
a folha afunda
na fenda
veios e traços:
nada mais.vento
ou clorofila
osmoses
overdejares
A folha morta



dois

pela rua,em
rdemoinho
rola
junto a tantos entrulhos
a caixa de sanduiche:
papel,tinta, cores,
gordura, restos, organismos
vivos, retorcendo-se em dores
e descasos.
foi ontem árvore. pigmento
subtraído à terra
foi ser vivente, devora-me
ou te devoro.
a caixa rola, resto amassado
rumo ao nada.

dois poemas de Olina D.

eco da palavra

o dom da palavra

o som
das muralhas que se dobram
ao poder da voz:
a língua, o toque, o torque
no corpo, o sabor acre e doce
o lírico lírio
a verter vertigens
em pupilas e púbis:
a língua
iridescente poema
indecente
a desenhar desejos
pressentidos
nas madrugadas insones.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

des palavras

Subverter o sentido das palavras
Dar-lhes asas
Para que voem segundo
Seus próprios desejos
E como
Num indicionário
Desdizer as coisas
E dar-lhes novos nomes
Brincanteiras
Brincrianças
Num jogo
Onde amor não é amor
e pode
Ser amor romã aroma
De amora
E felicidade feliz
Cidade idade ida
Ou vindas asas
E rezas
prorosas
Úteros úberes
Leite esbanjado
De tetas plenas
De ocio criador.

Dar cor às palavras
E matizar os verbos
E sujeitos
À chuvas e tempestades
E trilogiar sentidos
E ser azulvermelhoroxoamarelo
Ipês paineiras flamboyants
Primaverando luzes
E luzindo
Conceitos.

Dar cheiro às palavras
De mato, de bosta de boi,
De trilha no meio do nada
Cheiro de Passarim voando
Solto
Cheiro de cama desfeita
De corpos lavados
A lavanda
Cheiros de beeijos
Nas varaandas
Cheiros.

Dar toque às palavras
Truques, tiques
E torques:
Tua mão em minha pele
Tua pele em meus dedos
Teus dedos em meus
Cabelos
Teus cabelos em meus
Lábios
Lábia de amantes:
A palavra é o toque
Na toca dos sentidos.

Dar voz às palavras
E decifrar-lhes as carnes
E destrinchar-lhes os nervos
E descamar em camas
Seus dúbios sentidos
Em poemas lúdicos
Sórdidos
Sólidos bólidos
Arremetidos ao léu
Ao céu
Como pontes poentes
De sóis caracóis
Cornucópias ácidas
De sonhos antigos.

Dar ouvidos às palavras:
Soar como címbalos
Símbolos noturnos:
Ouvir passarinhos
E meninos cantando
Nas antinoites antigas
tinta nas paredes
Brancas de cal:
As marcas das moscas
Que morreram a tapas
Zumbem em meus cabelos
E são pura poesia
Que se solidifica em versos
Tijolos líricos
Tabletes elétricos
De poesia tônica:

Ah- as palavras
E sua fome árida
De escrever bandeiras
Em entrelinhas dentes

Subverter as palavras
É indicionarizá-las
Em novas idéias
Que não se traduzem:
É incitar momentos
De poesia plena
Do brilho de sol na folha
Tecendo urdiduras
E filigranas múltiplas
Em tecidos de sonho.

Palavras:
Pérolas impares
No diadema dos dias
Que a ostra
Ainda não inventou.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

apenas as pedras


imagem: Robert in Toronto

as pedras choram
lágrimas de séculos
e se recolhem
às suas entranhas.
seus veios minerais
recolhem impressões
e calcificam saudades:

..estive aqui
joão ama maria
turma de 1950
voltamos um dia...


as pedras cantam
canções finitas
minadas pelo tempo
mimadas na memória
o tempo ecoa
nos salões gelados
estalactites brancas
e pontiagudas
apontando ao céu
E ao chão:
a memória canta
cantos de solidão:

...naquele tempo a gente era feliz
e nem havia tempo:era um suceder
de horas quentes, ritmo
alucinado
e sonhos engendrados
no varal das noites
de toda estação.

...estivemos aqui.
nestas muralhas
de rochas gravamos
a canivete
nosso momento feliz.
mil novecentos e cinqüenta e cinco.
mil novecentos e sesenta e oito
mil novecentos e sessenta e tantos.


mil.mil.mil.
dois mil e não se lê o resto
ou os rostos
dilapidados,atordoados
encalacrados na pedra:
sentimentos rupestres
que a água não leva
e a pedra consente
e conserva em âmbar:
prehistórias.

as pedras falam: sim,
a linguagem singular
do diamante e carbono
do opaco sentido do humano
e suas contradições:
brilho e obscuridade
têmpera fria do aço
e têmpora anêmica
que grava,crava
na pedra, suas sensações.

a poesia se instaura,
sorrateira
nesses ideogramas:
painel alucinado
do rude sentido
faiscando na pedra:
cacos, nacos de sonhos,
De tempos resgatados,
dos lembrares
bricabraques coloridos
de tantos tempos:

ah! painéis de areia e vento
cadernos de viagem
poemas rabiscados
a giz, grafite , a sangue,
em pedra, papel, ou pele:
somos todos assim.
imersos em nós e os outros
são os outros.

amamos..?
navegamos à deriva
em mares interiores
em sargaços infindáveis
e nos sonhamos eternos.

mas não somos.
apenas
as pedras são.
em seus retiros minerais
imemoriais.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

torquateando


imagem: dariuszka/flickr

Torquateando a fogo
afago,
e afogo coro dos contentes
ateando fogo às vestes
engulo o veneno das vespas
e das vestais
Que auguram paz.

Torquateanas
loucalúcidas
bocas túrgidas
que beijam o caos
E trepam
com o infinito:
que sensações buscadas
nas estranhas entranhas
das entrelinhas
te trouxeram
o asco da existência?

Torquateando
incendeio estrelas
e escancaro sóis
obscuros, nas trilhas
dos caracóis:
não chore, baby,
a vida é assim:
É fim.

Ensaio
no trono dos tolos
atirando tijolo e pedra
nos costados dos navios
pavios
para o inconsciente.

Cogito.Existo.Resisto
e insisto no caminho
ainda e apesar.
Torquateando fogo
na mesmice
e flertando,
obliquamente
com o caos e anarquia
absorvo metáforas
absolvo metástases
e respiro palavras
na busca do sentido.


um mínimo cantanárquico para o poeta destoante do coro dos contentes.

domingo, 9 de maio de 2010

desquadrilhares


imagem: chatirygirl/flickr

,e em desquadrilhas
João amava Maria
Que pensava que amava Rita
Que tinha tesão no Paulo
Que se amarrava no Pedro
Que não amava e nem se amava
E era só sexo, só sexo,
Só sexo
E que desfez o círculo viciado
Dos corpos suados
Que não amavam ninguém.

...amor, palavra em desterro, palavra travada, palavra tatuada em tanta pele e descorada em tantos corações-almas-cérebros-sei lá eu...

Amor, palavra degradada, degredada,enjaulada,
palavra desgastada por uma pá de sentidos,
por um falta enorme de sentidos,
por desmedidas no uso ,
mas ainda palavra que toca,que tesa, que reza,
que seduz, que fere, que afugenta,
que apazigua, que machuca, que entontece,
que acontece,
palavra que acende e transcende, amor...

-Amorin, tu me amas?
Clamava lânguida uma amante lúbrica
Enquanto tirava do amado a última gota
De suor e de porra
Enquanto
Sugava língua e pele
Poros e banhada em prantos
Se entregava ao jogo
Ao fogo do corpo
Perdido, na cama,
Entre os lençóis...
-te amo, te amo, te amo
-quanto me amas, amorin?
-É assim do tamanho do mundo
É como o brilho da estrela antiga
Que explodiu
E ainda brilha...


E os olhos da amada luscofuscam
E se embriaga de ócio
E se desmancha em prazer
Do corpo a corpo.

...Não te conheço a alma, meu amor ,
Meu amor?

A amada dorme,
feliz e descansada
E sua alma é um oásis
É um paraíso perdido
Território inacessível
Inescrutável a qualquer olhar.
Resta o corpo, a carne,
Que se contorce ao toque,de novo
O desejo,
O abraço,o enlace,
O gozo.
A alma, não me capturem
Em qualquer máquina:
A alma se preserva, solitária,
Em solilóquios ubíquos,