quinta-feira, 29 de abril de 2010

sagrado


imagem: net efekt/flickr

A folha alva
Sagrada seja
sangrada seiva
Singra de desejo
De ver a palavra
Em ranhuras
E sulcos vivos
Transformar sua carne
Sua pele branca
Em coisa viva:

Arauto de versos
E de verbos prenhes
o poema convexo
se curva,se amolda,
se estende, em repouso,
como pouso de pássaro
voando num céu claro
em closes de brigadeiro
azul:

é mágico o despertar
da consciência
e sua revelação:

é lúdico
o ato de escrever
e embaralhar
signos e hieroglifos
como seres fantásticos,
como grifos
gritos e sussurros
como sopro
da divindade
em nosso ouvido.

Os pulmões exalam ar
Que tocam cordas
Que vibram carnes
E a palavra se faz.
E a mão afoita
Transforma voz em objeto
E a folha de papel
Sangra sulcos
Em sua carne branca
exprimindo o êxtase
desse coito
ininterrupto.

domingo, 25 de abril de 2010

deriva


imagem: g eniac/flickr

À míngua
É como me sinto
Quando assento
O olhar
Em tua fresca beleza
À deriva
É como me vejo
Quando cedo
E navego
Em teu olhar cerejado
E serenados cabelos.
Quando mordo teus olhos
E me vejo em tua boca
Eu me queimo, poesia,
E me diluo em ti
Como palavra inventada
Como ritmo e coisa
Outra
Que corta a respiração.
E ofego
E cego
A lua dança,líquida,
Na ponta da minha língua.
Lualualuar
Luau de maio
Prenúncio de alvuras
na hora nua.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

língua


imagem: geekr/flickr

língua
languida lâmina
destilando
verbos e versos
língua
lúdica e lúbrica
desenhando geometrias
nas bocas vorazes
em geografias
de estrelas
no céu do palato.
língua
longa viagem
no dorso do corpo
e no hiato dos poemas
minha, sua, nossa,
língua mãe
babel:
jorrando sentidos
por vias tortas
rosa que se desfolha
extase.

domingo, 18 de abril de 2010

moradas


imagem: h d c/flickr


Esfinge enigmática
Debruço-me
Sobre ti e sobre mim
E qual pensador de Rodin
Não vislumbro amanhã
que arde,apenas me indecifro
e te desconheço
a cada vez que toco
o rubi da tua boca
e o az-sul de tua Iris.
Somos todos teoremas
Somos o todo teorema
Inconcluso
E no escuro
Empreendemos viagens
Vorazes, nos vórtices
De nossas mentes
Buscando o caminho
Desse axioma :
O que é a vida
Essa mão que nos cinge
A cintura
Como uma faixa de gaze
Que pode se esgarçar,
A qualquer tempo?

...um dia chegou o anjo. O anjo. Assim chamavam aquela figura estranha que invadiu casa e vidas, sem pedir licença, sem cerimônia, o anjo exterminador que chegou buscando redimir vidas, alterar vidas, fazer renascer em cada um daqueles quatro a chama apagada- a mesmice, o mormaço, a modorra, a masmorra, impropérios e infortúnios, tudo deveria ficar para trás quando o anjo tocasse os corpos e as almas e quando soasse o toque da trombeta todos sairiam de suas cavernas e como fenixes alçariam vôos novos, mas...

O anjo exterminador não se deu conta de sua intro/missão em meandros complexos das esfinges, que nem a si próprias se decifravam- e dessa promiscuidade não se gerou a rosa cálida ou a luz da utopia- apenas os seres se perderam, junto como o anjo- esse ser apavorado com suas asas caídas, penas despencando pelos ombros, lágrimas humanas em rosto indefinido, chorando pelos cordeiros imolados...

Ei, tá muito trágico – e nem é assim no mundo pós-moderno- tá muito anos sessenta aquela coisa do Pasolini antes de descobrir a alegria da vida em suas celebrações do amor – somos muito mais aquele anjo que chega light, só no sapatinho, e se instala, sorrateiro, no coração e na cama dos desavisados- e que de sobra sai pras baladas, dança., apronta, e mostra que a vida não é só drama- é drama, mas é comédia e mistério

Mas mesmo assim, lá no fundo de nossa alma ainda aguardamos essa figura mística-mítica-física- alguém que venha nos tirar da letargia e nos trazer motivos-

Prá não dizer que não falhei
Se flores capaz
Decifra o outro mistério
Que se debruça sobre ti
Com seus casulos obtusos
Seus dedos agudos
E seu sangue jorrando
A plenos pulmões.
Somos todos teoremas
Inconclusos,
Todos tanta incógnita
Em estradas tantas.

Decifra-nos
Ou te devoramos.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

até


imagem: swamibu/flickr

de alma em punho
me exponho
a ventos e tempestades:
sem amarras
a felicidade
é uma alma quente?

meus sonhos
largos por demais
se comprimiram
na estreiteza do caminho
meu corpo
livre demais
rompeu-se em partes
suspensas nos despenhadeiros
e rochedos
meus medos
poucos demais
se avolumaram
na medida dos caminhos
e dos caninos
deixados,nos escaninhos
da memória:
minha história
sua história
vidas: o que é a vida?

...sabe, meu amor, há tanto tempo eu não .olhava dentro do seu olho que me desacostumei da idéia do verde do teu olhar atirando lanças ao meu: lanças de fogo, jogo de sedução, a menina dos teu olhos piscando branca brinca ainda em minha mente de tantos e taantos anos atrás e a gente corrria e caminhava e parava e sentava e ria e ria e a vida era uma infância só plena, bela, grande demais para a nossa meninice sem mesmice sem masmorras sem mordaças- éramos assim e a brincadeira era uma só: menino e menina no meio da roda e a gente não era santo nem nada mas era bom ser criança e de repente os anos se pasaram: ah, esse danado do tempo que vem e vai e vai levando tudo feito águas revoltas sem pontes para o lado de lá- da maturidade- nossos corações não acompnham essa velocidadee com que nossos corpos arreferecem- nossa mente nos arremete cada vez mais e mais buscando sonhos mas os sonhos se atolaram no lamaçal dos caminhos, esgarçaram-se na estreiteza das estradas, nossos sonhos ficaram e nós passamos e mesmo assim a gente está aqui, vivos, vibrantes, ainda somos lindos e nossos corações não se empedraram, pois fomos abençoados pela santa luz da poesia: ah, a poesia, este estado que não se define mas que nos mantém alertas abertos ao te3mpo: a poesia, esta arma quente que nos faz expor a alma, a brincar de palavras, a desmontar verbos e versos e nos traz o prazer das revelações- a descoberta daquele poema antigo, daquela palavra mágica, e, além disso, a descoberta do outro olhar sobre o outro- ah, meu amor, que bom olhar no teu olhar verde arremessando promessas e primícias sobre o meu olhar- você sabe, são tantos anos, são tantos planos, tantos panos(indianos, você se lembra dos sessenta?) e tanto incenso e non-sense e tanta falta de senso, tanta viagem- meu amor, mas tudo vale tudo tudo é vida que se aprende e se desprende de nós-

sei que andamos muito. a estrada
nem sempre limpa, nem sempre linda,
a vidaa, nem semepre amena,
ou serena,
muita pedra, muito espinho
camimnhamos juntos
buscando aquele sonho:
o de estar juntos,
de ver juntos,
de ouvir juntos
Uma manhã nascendo.
é amor?
não sei, spó sei que é bom
ser assim: e insistir
romper caminhos estreitos
desafiar o decoro
das decentes
mentes dormentes
e caminhar, com você,
até onde o passo alcançar.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

precipicios


imagem: larry sión/flickr

...precipício das coisas
é o princípio de nós
somos apenas asas
(não pássaros)
e engendramos
voos imaginários
aos paraísos
vislumbrados
nos delírios noturnos.

inexato, me guardo
no hiato
entre a flecha
e o arco
entre o mergulho
e o salto.

impreciso
me busco
no turvo da água
sob os véus de isis.

inexato
me atiro ao alvo
seta cega
rompendo a carne
e antevendo a queda
no...

domingo, 4 de abril de 2010

ainda


imagem: gisela giardino/flickr

hoje amanheci poeta e sei
meu verso é cru,
é avesso
não há lucidez na dor.
nem calma no romper de laços:
não te quero assim
sonhadora, romântica,
buscando alhures
o que aqui não se encontra:
as doze tulipas vermelhas
:adeus
a poesia fere,corta,
machuca,retalha
e sua luz iridescente
Me atropela pele e poros
Eu,pecador, absoluto em meu pecado,
todo poderoso construtor dos meus desvarios,
confesso-me a mim:
do nada vim
Tudo é nada
O nada que me reveste
Ao querer ser tudo.
A paisagem se desdobra à minha frente
feita de brilhos e barulhos matinais
Nada demais. Nada mais.
Hesito em soltar os monstros
Ou deixá-los dormir
Nestas mansas tardes outonais.