domingo, 28 de fevereiro de 2010

voz


imagem: levanta la voz- flickr/Daquella manera

pra adriana godoy

e o verbo se fez voz
e habitou entre nós.
voz:
foz de rios interiores
que nos faz
mós de moinhos
catapultas de ventos
cataventos
sonhando precipícios
aos quatro ventos.

voz.
música da palavra
escava em nós
nós cegos e desatados:
e mesmo sós
encadeamos cantos
sonoras explosões
de unos sentidos.

voz.
foz e estuário
santuário
veludo e uivo
sussurro e grito
da poesia
da palavra
tornada livre.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

o oco do mundo


imagem: tetsuo the iron bird- flickr/

há um artefato na porta principal
há artefatos na porta lateral
nas velhas portas frontais
e secundárias
onde se esconde o oco
do mundo:
os artefatos ocultam teses
e riem de nossas crenças
de crianças impúberes e imberbes
que se pensam livres e leves
em meio ao caos:

estão aí, em todos
Os lugares
e o mundo gira e os augúrios medram
medos
nos corredores mudos
midas tocam tudo: querem ouro
ou seus simulacros:
memórias préhistóricas
nos causam asco:
o que é a vida?
O que é arbítrio?
O que é sonho
Senão matérias
De pura poesia?

Minha avó e as profecias

E estava escrito. E assim devia ser.
Que aquele menino iria carregar nos ombros opeso de mil gerações, o preço de mil pecados, iria carregar em suas costas o peso de vidas inteiras que se desviaram.
E eu ria gostosamente das lindas lendas, lendas da velha minha vó que me assutava às vezes nas noites de raios e trovões com suas profecias loucas e suas estórias alucinadas.
E vivia eu relativamente bem um burguês acomodado acostumado às coisas bodas da vida , geladeira televisão e amore que adorava literatura de vanguarda, cinema de arte bares da moda e vernissages.
Que dormia de dia e vivia de noite.
Um pequeno burguês pequenino, como tantos outros.
E vivia eu assim, confortavelmente feliz e acomodado, sem saber que o destino traça linhas incongruentes e inconcebíveis em nossos cérebros, sem saber que o destino tem algo de bestiologico, sem saber que não há lógica nos caminhos do mundo.
E vivia eu confortavelmente bem, sem me lembrar da velha minha vó, que tantos anos já havia passado desde suas estórias loucas e suas profecias fantásticas, que tantos anos já havia passado que a memória não conseguiu guardar.
E foi assim que naquele belo fim de noite eu senti apavorado e abestalhado( beatificado) as coisas me acontecerem..
Naquele lindo fim de noite de lua de uísque e de embalo foi que eu comecei a compreender as linhas invisíveis e incompreensíveis.
Eu caminhava de encontro ao descanso do corpo quaqndo senti a minha primeira punhalada.
A segunda punhalada. A terceira.
Senti o sangue ir escorrendo pela calçada, pela calça, o meu carro a poucos metros de mim, e eu sem poder ao menos alcançá-lo, e a sofrer a agonia das punhaladas pelas costas, as punhaladas que me penetravam até os ossos, e me faziam sofrer as piores dores imagináveis.
E meu carro a poucos metros de mim, a salvação a poucos metros de mim.
A vida, a poucos instantes de mim. E eu, me perdendo pouco a pouco.
Foram entretanto essas apenas as primeiras revelações. O sangue fez ao meu redor uma poça vermelha, e eu continuava no chão, sem compreender o porque, mas compreendendo que alguma coisa mais forte e mais verdadeira do que a minha verdade estava acontecdendo.
E foi nesse exato momento de reflexão que os pássaros desceram do céu com seus bicos de metal e suas asas de chamas vermelhas. E começarqam a bicar-me os olhos, queimar-me o corpo com o fogo suas asas.
Matavam-me, entoando hinos imcompreensiveis aos meus ouvidos.
Foi aí que eu penetrei naquela realidade suprarreal. me lembrei dos meus velhos tempos em que minha vó me contava as velhas profecias, e me contava que eu não era um menino comum.
Eu não morri. Fiquei vivo ali no chão, com o fogo, o aço, o sangue e os punhais.
Percebendo todo o horror proibido dos velhos tempos, eu vi:
Estavam se cumprindo as profecias.

belo horizonte -1978


sim, os portais estão cheios de signos
e os homens se persignam frente aos idolos
e se desmancham em lágrimas
em coitos afoitos
pelos quatro cantos:
entoam cânticos, revivem mitos
e se deixam abduzir
pela poeira de estrelas:

as canções de gesta, os romanceslíricos,
o amor idilico,
a lirica poética
tudo conspira, tudo inspira, tudo incita
e excita os homens.

que ainda patinham na lama
que ainda amargam
nas ruas
que ainda aspiram a rosas
tendo sangue nos dentes.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

no labirinto


imagem: Labirinth/ MorganTar-Flickr

Nada a fazer
a não ser
Sair prá ver o mar. a mer
da é que o mar não traz
Paz ou poesia. é sujo,
como os becos fétidos,
fedendo a mijo, ao relento. tento
os degraus do céu.

estranhas me chamam
aos leitos desarrumados
Com marcas de outros
e me rendo ou não
às cantadas das sirenas?
Gozar, gozar enquanto a seiva flui
E a carne free-me.
no labirinto. sinto a santa
chama quente
do absinto ardendo
as entranhas. estranhas chamam
e me perco
no lusco-fusco. há saída?
a saída
onde é a saída?

sábado, 6 de fevereiro de 2010


imagem: in a dream - flickr/magicattic88

I have had my head bent for truth and treason.
I'm the fox of reason.
I'm an eagle in the whirlpool.

* * *

Michael mcclure –

hum

sei. Sou a sombra de mim e dos outros
e suporto fardos que pesam as dores
do mundo mundo que não sabe
o que carrego dentro
desta mochila estradeira
dos anos sessenta.

saudades não de ddesbotados
serafins coroando anjos e deuses
no olímpico nirvana
de ioguins e iogurtes
de sonhos brancos e canções
enjoadas
de liras mormacentas. quero, sim.
muito mais de ti e de mim muito mais
do que se apresenta.

as viagens clandestinas
A lisergia do poema que não se perdeu
nos anos setenta
a loucura insana e crua de ser
homem num planeta belo
e destinado
ao pó.

quero sim,o útero de estrelas
tudo, tudo, enquanto
canto enquanto ando
enquanto grito uivo escarro
enquanto sangue e carne
persistirem em mim-

quero ser tradução
da poesia doida e desvairada
que deve nortear
todos os passos.


humms

Sei. Sei que sou a sombra
de mim e dos outros
e que carregar mundos nos ombros
é fardo fácil, é doce oficio
quando nos encantamos
com a grandeza dos pequenos
E nos espantamos
Com a apequenez dos grandes.

há ordem no caos, há uma ordem caótica
que rege os mundos pequenos
e a árdua batalha das espécies
que se enfrentaam nos subrterrâneos.
Não essas batalhas rudes e campais
das coisas grandes. Mas aquelas
de asas de boboletas, de pios de pássaros,
de húmus, de minhocas, de vermes,
de formigas e outros nossos irmãos
menores.

sei.O universo sé um mimo,
um brinquedo,
um pedaço de estrela
na ponta do alfinete, e nós somos tão tolos
e inúteis, nesse mister.

prá que pisar flores
e arrancar as asas dos insetos?
prá que querer ser mais
do que insossos mortais?

ora direis, olhar estrelas-
ora direi, olho as estrelas,
ouço as estrelas
e sei
que o mundo é brinquedo sim,
Como bola de sabão
E de repente, ploft- bum- vupt
Se desfaz...