terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

tempos


O relógio liquido
não conta as horas
que passam.
É um pássaro
apenas
suas penas se liquefazem
como liquens
com o passar
do tempo afetivo.

O relógio louco
detona flores
gelatinosas
no arco da memória.
Aide-memoire
a nos lembrar que o tempo
não existe assim, sozinho:
depende de nós
o seu desenrolar.

O relógio mole
se desfaz
e respinga rosas
e odores
de prosa
e poesia
sobre as curvas do tempo:
matéria prima de sonhos
surreais.

O relógio fantasma
registra passos
lassos laços
os compassos
das odes ao espírito
E os cânticos à matéria
de gentes que foram,
que são, que virão.
gentes que são
causa e consequencia
de qualquer poesia.

O relógio poema
liquidifica-se em nuvens
brancas de algodão
quando tocado
Por inábeis mãos:
suas cores são palavras
tácteis
são fractais de tempos
que flutuam, indiferentes
na névoa da eternidade:
só o poeta é capaz
de tocá-las
e transmutá-las
em coisas tangíveis.


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