domingo, 7 de agosto de 2011

peixe


imagem: narice28/flickr

apesar do lodo, do limo, das algas, apesar dos sargaços,das turbulências e de tudo, o peixe nada
e sonha, sim, o peixe sonha, sua memória é curta, curtíssima( quantos segundos?)
mas nesse átimo ínfimo de tempo de memória de lembrança neste mister de mistério e vicissitudes
o peixe sonha.

sonha em ser pássaro, talvez, um passarinho solto no sertão no mato um passarinho rápido lépido assobiando cantos arrebatando fios abocanhando frutos sim um passarinho
bêbadazul de um céu de qualquer tempo
sim o peixe sonha em se desvencilhar
de toneladas de água
e de opressão verdiazul de águas de algas de corais de iscais e de anzóis de redes e de outros medos
o peixe sonha.

ser flor, florescer em cachos, em penas, florescer em rubros e violáceos pistilos corolas pétalas cor de rosa choque cartelas lúdicas de azuis palhetas de pintores vangogh e girassois e o sol girando
e o peixe sonha em alçar voos mais longinquos e ser tanta coisa
e em sua sede ser como os poetas que buscam alhures o que aqui não encontram: e os poetas, que ironia, sonham em ser peixes a singrar os mares nunca dantes pressentidos

e os poetas sonham, ah, como poetas sonham! em ser isso, ser aquilo, ser protótipos do belo, arautos da delicadeza embora a torpeza quase sempre acompanhe os passos de todos nós homens e mulheres
no fuundo dos nossos leitos.

e os peixes singram esses rios, mares, lagos e fiordes, oh my lord, procurando o quê?
e peixes procuram algo? procuram algas? procuram o tudo? o nada?
nada não. o peixe apenas nada. a favor e contra as coerrentes.
e em sua memória curta não curte sua história. não há corte possível. nem córtex.

..mas o peixe poeta insiste em sonhar. e nem percebe, absorto, a mão da natureza, a força dos instintos,
a boca que se abre e os dentes afiados
a ponto devorar.
e o mar azul, transparente, lúdico, onírico, se tinge de vermelho,
não de sonho.,
de vida real.

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