sábado, 13 de março de 2010
inóspito
imagem: jjjohn~/flickr
Canto I
A palavra se cala
estupefata
diante da putrefata
crueza da morte
que assola os sentidos.
A palavra cora
envergonhada
diante da tinta
da fúria
que assola
e tinge o cenário.
Canto II
Terra devastada
em que se digladiam
irmãos de sangue
em mãos cruzadas
morrem os homens
apagam-se os sonhos
gotejando sangue
coquetéis vermelhos
gosmentos,
grudentos,
sangue novo
sangue antigo,
sangue cíclico
na terra devastada
nos desertos erráticos
longe dos oásis
e das calmarias
longe dos jacintos
e dos lilazes
de abril
só tenazes
apertando as gargantas
tantas.
Escorrem mundos
pelos dedos
pelos medos,
pelos becos,
pelas bocas correm escarros
escamas de sangue: bombas
da paz, explodem
sôfregas, trôpegas,
a morte
sorrindo, insidiosa,
sedenta, e o diabo
que se veste de cordeiro
esbanja escárnios.
E o sangue corre, escorre,
Explodem corpos e ossos
Se esfarelam:
É o sonho da paz
Que volta ao pó.
É a sanha do ser
Que não se entende
em nome de deus.
É destino ou desatino
Essa insensatez?
Canto III
A terra devastada
apenas observa
com olhos enevoados
e choram as pedras
e se empedram os cantos
e secam os cântaros
por perdas, por danos
e pela dor dos homens
que ficam
a espiar horizontes
com olhos caninos.
E o mar, ao fundo,
em seu azul de safira
sugere a paz:
Que paz?
cânticos para T.S.Eliot e seu poema "The Waste Land"
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2 comentários:
Danilo que forte?
Quando lia seu poema, pensava na imenga guerra diária que presenciamos todos os dias na tv, guerras por espaços, guerra por sobrevivência, guerras e mais guerras, perdas e dores a cada instante... e onde está a paz?
Fortíssimo!
Perfeito!
bjs e ótima semana!
Danilo, o que posso dizer? Me silencio diante de seu canto e me convenço de que T.S.Elliot ficaria muito feliz com esse poema. Parabéns. Vou ler de novo, agora.
Li, poorra! que maravilha! beijo.
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