sábado, 20 de março de 2010

impermanencia


imagem- doctor swam/flickr

Sou poeta.
E por ser poeta
canto
a leveza do fardo,
a beleza do cardo
do mar
do fogo-fátuo
que exala formas no ar.

E canto enquanto vivo.
Canto a beleza do instante
mutante,
inconstante,
do incessante vir a ser.
Canto o transitório
e o transe dos amantes
lapidados diamantes:
canto os laços desfeitos
e os liames que virão.

Não gozo gozos aflitos
nem sofro horrores.
Sou calmo. Sorvo pranas,
sou zen,
sou sem destino
no mundo.

Por isto tudo é que canto.
A canção sem fim.
Canto canções
da transitória permanência,
essências de vertigens
e caminho rumo ao novo,
ao velho,
ao novo
romper do ovo,
buscando transcendências
e inconfidências
contidas em corpos e almas
para confundir as mentes.

Por isso, canto.
A beleza do verso,
a fúria do verso,
a flor do cume
e o lírio do lodo,
o tudo e o todo,
o inútil e o passageiro.

Amanhã, na manhã,
Posso ser nódoa
que fica
na folha de papel.
Mas não importa.
Enquanto vivo,
canto,
e teimo
em buscar o céu.

cântico para cecilia meirelles e walt whitman

6 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Lindo! Perfeito! Simplesmente vida neste poema tão lindo!
bjs e ótimo fds

Anônimo disse...

Só a impermanência permanece...

Belíssimo!
Um abraço!

Anônimo disse...

Li seu poema inteiro pensando em Cecília Meireles e, lá embaixo, o nome dela. "Eu canto porque o instante existe e minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste, sou poeta."

Beijos.

Cosmunicando disse...

que lirismo, danilo... muito lindo!

Adriana Godoy disse...

Danilo, interessante esses poetas tão distintos e tão possíveis nesse poema. essa harmonia deu uma leveza ao poema e um embalo meio zen mesmo. Arrasou. beijo.


Plavra de verificação: ardimi

namastibet disse...

(Pra'Ti poeta)
claro que pode(s)...
ela é como uma filha querida
amada quando nasce
mas depois cresce
se apaixona e parte
para o mundo,o que escrevo
não é meu,ganha vida própria
quando é lida e mais ainda quando
amada
(obrigado,pela sua poesia tambem)