quarta-feira, 16 de setembro de 2009

imersão


foto: memories- flickr/striatic

prá nina rizzi
Desaprendi com os bichos do mato o reverso dos caminhares. Veja, não há grandeza nem beleza nesses roubares de ares nessas andanças vãs e ermas em busca de outras plagas que nem pragas atacando vírus virulando e embrutecendo vidas que deveriam ser vidas:plenas, ávidas, esperança e flor da pele não essa out-dor que incomoda essas cólicas que destroem eses besos descarnados essas carnes insossas e incolores essas cores cinza cinza assim sujas borradas indefinidas:sim essa cor cinza desses céus de chumbo de caos-ixões de chumbo chumbo grosso não há graça na desgraça não há riso não há siso que se deleite na dor: o homem não pode se rastejar que nem serpente tem que ser pente fino a se pentear e buscar cafunés nos cabelos belos fios a se tecer a se ter carícias e delícias nas mãos e nas cabeças:
à beça, tem que ter carinho de muito muito mais caminhos abertos a se caminhar indo em direção ao novo rumo. Desaprendi com os bichos a ser solto assim feito os peixes que não têm memória: vive-se o átimo o último instante a cada instante: é tocante essa não memória do peixe. É tocante o olhar do cachorrinho que se entrega assim, sem mais, sem ao menos amenos desejos ou vontades: é chocante seu estado de amor e de cuidado. E nós: onde? Quando? COMO? A gente não sabe um milésimo do amor dos bichos, dos estares e fic ares dos bichos e de suas pequenas vidas tão entrealaçadas,ah, eles não são humanos pode crer?vamor fazer uma imersão no mundo dos bichos?

4 comentários:

Adriana Godoy disse...

Um texto à altura da grande artista Nina Rizzi. Parabéns, Danilo, vc conseguiu e olha que não é fácil! Bj

nina rizzi disse...

querido-querido... vc não imagina, não imagina (imagina?) o quanto eu precisava dum afago desses hoje... sabe, ando tão... tão.

e tão é tão, que nem havia passado aqui ainda. tamanho o tão em mim...

mas acho que afinal vc sabia sim. que artistas como vc, artistas mesmo, são tão sensíveis que captam essas coisas. e amigos, amigos captam...

o texto é lindo. é como eu gostava de tê-lo escrito. sim, vamos emergir.

na real, danilo: eu quero mesmo é ser bicho. cansei dessa onda humana...

e eu aceito o teu texto como os olhos que gostava que me pousassem agora. como as mãos que gostava que tocassem o meu maxilar dizendo: "está tudo bem, menina, vc é linda e uma pessoa assim não deve chorar. sorria porque eu te amo."

obrigada, danilo, obrigada por metamorfosear meu pranto, da distopia mais dorida, a alegria dos irmãos.

obrigada, querido. mesmo!

ps: e obrigada a godoy também. é lisonjeira por demais :)

Ava disse...

Explorando a internet... Encontrando preciosidades...

Bom conhecer!


Bjs!

Hercília Fernandes disse...

"não há graça na desgraça não há riso não há siso que se deleite na dor..."

Bela prosa-poética, Danilo. Frases maravilhosas compõem o todo textual, destaco mais uma:

"Desaprendi com os bichos a ser solto assim feito os peixes que não têm memória...".

Lindo texto! Em linguagem e sentidos. A meNina tem grandes motivos para festejar.

Beijos nos dois,
H.F.