quarta-feira, 24 de agosto de 2011

rascunhos


imagem Marina Guimaraes;flickr


>nada não.
sei que você não se surpreendeu
com as flores que se abriam no jardim,
em tempo de seca, aqueles cachos amarelos
pendendo feito ouro líquido dos galhos
nem sei como os ipês conseguem florescer
assim-buscando no âmago da terra aquela força
desumana, quer dizer, vegetal, para brilhar
em ouros líquidos, rosas líquidos, roxos
cerúleos, brancos hialinos
hinos
de amor
à vida
ao mundo
à terra.
nada não. sei que você não se surpreende com nadas
nem tudos. para você não passa de nada
nem sabe em que direção olhar.seus
olhos
continuam congestionados
de vermelho
não de pores de sol
ou de auroras boreais
mas de tédios,de ócios,
de ódios, de adeuses
que você sempre dá...
tô vazando, até logo,
bye
te ligo de lá:
correcorrecorre
não há jardins que resistama
nem primaveraverãoutonoinverno
que redimam seu olhar:
nada não: você nem soube reparar
na luz dos meus olhos
nem soube ler
meus lábios nos silêncios
que você detesta:
de cara, tô de cara com você
que não sabe falar, se expressar,
vai lá, diga alguma coisa,peça
um sanduíche,
um suco natural,.
uma cerveja
saia prá balada,dance,
pule, esperneie,
grite,
se arrebente|:
nada não. não somos assim
como você quer
voamos como passarinhos
vagarinho
não como aviões
a mil.

nada não. apesar de seu olhar
indefinido
os jardins continuam a florescer
ouro,prata, topázios
e ametistas
em silêncios naturais.
rascunhos
do que você
sempre quer.

domingo, 7 de agosto de 2011

peixe


imagem: narice28/flickr

apesar do lodo, do limo, das algas, apesar dos sargaços,das turbulências e de tudo, o peixe nada
e sonha, sim, o peixe sonha, sua memória é curta, curtíssima( quantos segundos?)
mas nesse átimo ínfimo de tempo de memória de lembrança neste mister de mistério e vicissitudes
o peixe sonha.

sonha em ser pássaro, talvez, um passarinho solto no sertão no mato um passarinho rápido lépido assobiando cantos arrebatando fios abocanhando frutos sim um passarinho
bêbadazul de um céu de qualquer tempo
sim o peixe sonha em se desvencilhar
de toneladas de água
e de opressão verdiazul de águas de algas de corais de iscais e de anzóis de redes e de outros medos
o peixe sonha.

ser flor, florescer em cachos, em penas, florescer em rubros e violáceos pistilos corolas pétalas cor de rosa choque cartelas lúdicas de azuis palhetas de pintores vangogh e girassois e o sol girando
e o peixe sonha em alçar voos mais longinquos e ser tanta coisa
e em sua sede ser como os poetas que buscam alhures o que aqui não encontram: e os poetas, que ironia, sonham em ser peixes a singrar os mares nunca dantes pressentidos

e os poetas sonham, ah, como poetas sonham! em ser isso, ser aquilo, ser protótipos do belo, arautos da delicadeza embora a torpeza quase sempre acompanhe os passos de todos nós homens e mulheres
no fuundo dos nossos leitos.

e os peixes singram esses rios, mares, lagos e fiordes, oh my lord, procurando o quê?
e peixes procuram algo? procuram algas? procuram o tudo? o nada?
nada não. o peixe apenas nada. a favor e contra as coerrentes.
e em sua memória curta não curte sua história. não há corte possível. nem córtex.

..mas o peixe poeta insiste em sonhar. e nem percebe, absorto, a mão da natureza, a força dos instintos,
a boca que se abre e os dentes afiados
a ponto devorar.
e o mar azul, transparente, lúdico, onírico, se tinge de vermelho,
não de sonho.,
de vida real.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

lobos


imagem: katie@/flickr

os lobos urram nas estepes e na neve gelada
suas impossibilidades. e suas improbabilidades
caminham junto com eles, as patas marcando
descaminhos, em busca da carne e das fêmeas
que se perderam

os lobos urram seus cantos de agonia
para uma lua indiferente,
para aum céu de chumbo e estanho
estranho céu de claridades alteradas

os lobos uivam e os coiotes
também se irmanam e se agrupam
nessas caçadas ancestrais
nas estepes geladas, a névoa seca,
a neve impiedosa
como facas
cortando as patas

os lobos uivam
e não sabem
como se traduzir:
não há som possível
não há palavra em suas línguas
enquanto seus corpos minguam
em busca da carne
escassa:
os lobos.