
imagem: ombres chinoises I - flickr/doozzle
prá nina rizzi
é que andei aprendendo a desanoitecer pesadelos enquanto lia prá dormir, de noite, contos de poe de lovecraft ah aqueles monstros infames, subterrâneos, Cthulhu aterrorizando corpos e destroçando almas- eu aprendi ali, com poe , a desamanhecer pesadelos e engendrar sonhos lilazes que não apertavam gargantas nem cuspiam cacos de vidro ensanguentados- só exalavam perfuames de lirios e águas de colônia... eu de há muito tempo havia perdido a vontade de sonhar com as coisas quando as coisas começaram a sonhar comigo: eu ia soooooozinho e atarantado em meio ao caos e à neblina de rimini fellini desnorteado no sertão e eu era parte dos sonhos das coisas: que coisas? coisas do mundo,coisas que a gente ia acumulando ao longo da vida feito seixos rotulados nos rios amontoando-se ao longo das veredas e dos caminhos e tantos buracos e tantas capoeiras nas matas e os olhos verdes da figura ainda me olhavam do alto de seus metros de alturas- ai, grande sertão de diadorim e riobaldo rosa tosa rosa guimaraneando os sentimentos e garimpando vozes e sentimentos lá no fundo da alma que rosa mineiramente sabia de todas as coisas que coisas? as coisas que nos sonham, as coisas que acontecem enquanto a gente vai vevivendo soinhos moinhos moribundos- marimbondos voam em minha direção e me ferram no pescoço: a dor é lancinante, é funda, e eu acordo no meio deste caos emocional poético remissivo e caio do rocinante- eu- quixote de araque- um araquiri poéstoico me aflora à mente- e eu nem sei mais do que estava falando: de rosa, dos sertões, dos marimbondos, de lovrecraf e de poe- ah, poe, edgar allan- poeta dos grandes- teus poemas me iluminam,
assim,devagar, desamanheço pesadelos
e anoi-teço sonhos
em noites cor de açafrão:
há luzes, há terracotas
há ervas finas
e finais
felizes
há corações empedernidos
e canções de meninar monstrinhos.
antes, muito antes do dom
eu não era assim:
adormecia pesado
e aos roncos e barrancos
atravessava a noite
como um destinado
à barca de caronte
mas hoje, meu sono é leve
como penas de gansos
e garranchos de criança
rabiscando folhas
de papel;
desamanheço pesadelos
e brinco
no branco do olho
no romã da boca
no seio macio
e no dedo em riste
que me aponta: quem
é o intruso
que se introduz assim
em meu reinado?
nada nada nada é o que digo:
minha intromissão
é jugo leve
fardo sem peso
é pluma no ar:
desaprendi pesadelos
e navego-
no mar de ulisses
voltando para ítaca
imune às sereias
e aos cantos mortais.