quinta-feira, 4 de abril de 2013





Des palavrares

(escrito para os amigos de prosa e poesia
 Fernando Ciscozappa e Adriana Godoy)






Subverter o sentido das palavras
Dar-lhes asas
Para que voem segundo
Seus próprios desejos
E como
Num indicionário
Desdizer as coisas
E dar-lhes novos nomes
Brincanteiras
Brincrianças
Num jogo
Onde amor não é amor 
e pode
Ser amor romã aroma
De amora
E felicidade feliz
Cidade idade ida
Ou vindas asas
E rezas
prorosas
Úteros úberes
Leite esbanjado
De tetas plenas
De ocio criador. 

Dar cor às palavras
E matizar os verbos
E sujeitos
À chuvas e tempestades
E trilogiar sentidos
E ser azulvermelhoroxoamarelo
Ipês paineiras flamboyants
Primaverando luzes
E luzindo 
Conceitos.

Dar cheiro às palavras
De mato, de bosta de boi, 
De trilha no meio do nada
Cheiro de Passarim voando
Solto
Cheiro de cama desfeita
De corpos lavados
A lavanda
Cheiros de bee-ijos
Nas vara ondas
Cheiros.

Dar toque às palavras
Truques, tiques
E torques:
Tua mão em minha pele
Tua pele em meus dedos
Teus dedos em meus
Cabelos
Teus cabelos em meus
Lábios
Lábia de amantes:
A palavra é o toque
Na toca dos sentidos.

Dar voz às palavras
E decifrar-lhes as carnes
E destrinchar-lhes os nervos
E descamar em camas
Seus dúbios sentidos
Em poemas lúdicos
Sórdidos
Sólidos bólidos
Arremetidos ao léu
Ao céu
Como pontes poentes
De sóis caracóis
Cornucópias ácidas
De sonhos antigos.

Dar ouvidos às palavras:
Soar como címbalos
Símbolos noturnos:
Ouvir passarinhos
E meninos cantando
Nas antinoites antigas
tinta nas paredes
Brancas de cal:
As marcas das moscas
Que morreram a tapas
Zumbem em meus cabelos
E são pura poesia
Que se solidifica em versos
Tijolos líricos
Tabletes elétricos
De poesia tônica:

Ah- as palavras
E sua fome árida
De escrever bandeiras
Em entrelinhas dentes

Subverter as palavras
É indicionarizá-las
Em novas idéias
Que não se traduzem:
É incitar momentos
De poesia plena
Do brilho de sol na folha
Tecendo urdiduras
E filigranas múltiplas
Em tecidos de sonho.

Palavras:
Pérolas impares
No diadema dos dias
Que a ostra
Ainda não inventou

2 comentários:

Adriana Godoy disse...

Ei, Danilo! Fico assim pensando nessas coisas todas e nesse poema incrível dedicado a mim e ao Zappa e talvez por coisas como essas é que ainda vale a pena! Obrigada de coração, meu querido amigo poeta. Continue sempre a colocar sua poesia vida da gente! Beijo

cisc o z appa disse...

dan... poeta

ins.pirro
poético pi... três virgulas quatorze prá lá do improvável
incomensurável lance mallarmadilhas

agradeço muito sua simpatia
empatia nos brincateiros do encontro
que nos é
forte e front

abraços!