domingo, 2 de dezembro de 2012

in-perenidades


1.        lanço-me ao cais do efêmero
e como concha me calcifico

: naquele tempo a gente era feliz 
e nem havia tempo: era um suceder
de horas quentes,
ritmalucinado
e sonhos engendrados
no varal das noites
de toda estação

...estivemos aqui.
nestas muralhas
de rochas
 gravamos
a canivete
nosso momento de lis
mil novecentos e cinqüenta e cinco
mil novecentos e sessenta e oito
mil novecentos e sessenta e tantos


2.   no mínimo transitório

amamos..?
navegamos à deriva
em mares interiores
em sargaços infindáveis
e nos sonhamos eternos
e nos sondamos internos
infernos a desabar
e céus de huxley

mas não somos.
apenas
as pedras são.
em seus retiros minerais
imemoriais.


3.   transito entre o provisório
e não me quantifico
nem dias, nem anos,

as pedras choram
lágrimas de séculos
e se recolhem
às suas entranhas.
seus veios minerais
recolhem impressões
e calcificam saudades:

..estive aqui
joão ama maria
turma de 1950
voltamos um dia...

4.   a memória são planos
sobrepostos

mil.mil.mil.
dois mil e não se lê o resto
ou os rostos
dilapidados,atordoados
encalacrados na pedra:
sentimentos rupestres
que a água não leva
e a pedra consente
e conserva em âmbar:
prehistórias.


5.   na dualidade,pressinto
os longinquos nirvanas
(e as estâncias zen)

a poesia se instaura,
sorrateira
nesses ideogramas:
painel alucinado
do rude sentido
faiscando na pedra:
cacos, nacos de sonhos,
De tempos resgatados,
dos lembrares

6.sigo assim,
 di/lapidando pedras
do caminho
para rasgar estradas
ou detonando estradas
para florirem as pedras
do meio do caminho

as pedras falam: sim, 
a linguagem singular
do diamante e carbono
do opaco sentido do humano
e suas contradições:
brilho e obscuridade
têmpera fria do aço
e têmpora anêmica
 
que grava,crava
 
na pedra, suas sensações

7.as pedras são pedras.simples
como o ar que se respira
a vida é dádiva
rumo ao incerto,

as pedras cantam
canções finitas
minadas pelo tempo
mimadas na memória
o tempo ecoa
nos salões gelados
 
estalactites brancas
e pontiagudas
apontando ao céu
E ao chão:
a memória canta
cantos de solidão:


8.caminho, voando
no dorso dos poetas
que fizeram sua casa
sobre improbabilidades

ah! painéis de areia e vento
cadernos de viagem
poemas rabiscados
a giz, grafite , a sangue,
 
em pedra, papel, ou pele:
somos todos assim.
 
imersos em nós e os outros
são os outros.



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