quinta-feira, 18 de junho de 2009
Do que a gente tem fome?
foto: Modern As Ay - Robyn Galagher/Flickr
Palavrentura
Ventania que carrega
Mundos
E desagrega muros
Erguidos sem saber
No caminho do futuro
Não se sai assim de um velho ovo
De um mundo carcomido
E digerido
Vomitado sobre fezes de infelizes:
É pesado o sentimento
O cantar pesa toneladas
Quando a alma navega
Em oceanos profundos
De dores adivinhadas
O cantar nunca é leve
Quando o corpo antecipa
A ausência presente
Física,
Desfiando rosários
De queixas.
Somos todos assim,
Solitários e ermos
Em meio ao mundo
Buscando o porto:
E o porto é sempre o outro
O inferno é sempre o outro
Assim como o paraíso
E os edens que buscamos,
Como deuses
Ou anjos tortos.
Os banjos já não tocam
E romperam-se as cordas das liras
Os coros de serafins há muito
Se calaram
E a terra ruge, a alma urge,
O corpo grunhe
Horrores ruminantes
Somos todos meros seres
Solitários e ermos
Em meio ao mundo:
E o poço, o poço
Nunca tem fundo
Só chumbo nos céus
Pesados, de cúmulus
Açodando sentidos.
A poesia anda solta
Querendo se mostrar
Nas insignificâncias
E nas entrelinhhas
Mas a gente não quer ver
Ou sentir o simples
A gente prefere se perder
Em estradas cheias de curvas
Pósmodernas
De necessidades novas.
Do que a gente tem fome?
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5 comentários:
Brilhante, dan! O moderno envelheceu. O novo só é novo por um instante. O novo de verdade está por vir. Viva a poesia do "porvir"! Que seja simples... Que a vida seja simples, que o homem seja simples... Enfim, que nossas fomes todas sejam saciadas. E que a música recomeçe a tocar...
Abraços!
Temos fome talvez dessa
"vida casa encantada
onde moro e mora em mim
te quero assim, verdadeira,
cheirando a manga e jarmim"
(Thiago de Melo)
Assim vou, depois de longo tempo sem vir à net, lendo seus poemas e me lembrando de outros...
Danilo, velho maigo,
Cada um com a sua fome.
A minha fome hoje é degustar valores esquecidos, sonhos amarelados pelo tempo, a velha goiabada com queijo (goiaba do fundo do quintal e queijo guardado na despensa)
Tenho fome de vida não vivida.
Procurei atalhos, esqueci que caminhar por estradas longas vive-se mais.
Hummmmm! Acho que é da idade.
Beijos. Saudades...
Danilo,
que poema...
Parece que temos fome de tudo
e o poeta nem consegue se decifrar, nesse mundo de insignificancias e descontentamentos que vai além das fronteiras da razão e dos sentimentos.
Parasfraseando Fernando Pessoa:
" O poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente"
Bjs
poetaço, cacete!... um dia eu descobri essa poétiqueu. e eu fazia birras de não tê-la a toda hora\instante (a tua, sim, poetaço)... qu eu venho aqui e tomo um banho de mim. encontro o que cria, por im, inenarrável de meus sentidos. que coisa linda. e suja. e linda. e linda. e...
veja, a palavra de verificação é: salve. nada mais propício...
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