sábado, 4 de abril de 2009

TEMPO LÍQUIDO


foto: Relógios- flickr/Luciano Di Segni

O relógio liquido
não conta as horas
que passam.
É um pássaro
apenas
suas penas se liquefazem
como liquens
com o passar
do tempo afetivo.

O relógio louco
detona flores
gelatinosas
no arco da memória.
Aide-memoire
a nos lembrar que o tempo
não existe assim, sozinho:
depende de nós
o seu desenrolar.

O relógio mole
se desfaz
e respinga rosas
e odores
de prosa
e poesia
sobre as curvas do tempo:
matéria prima de sonhos
surreais.

O relógio fantasma
registra passos
lassos laços
os compassos
das odes ao espírito
E os cânticos à matéria
de gentes que foram,
que são, que virão.
gentes que são
causa e consequencia
de qualquer poesia.

O relógio poema
liquidifica-se em nuvens
brancas de algodão
quando tocado
Por inábeis mãos:
suas cores são palavras
tácteis
são fractais de tempos
que flutuam, indiferentes
na névoa da eternidade:
só o poeta é capaz
de tocá-las
e transmutá-las
em coisas tangíveis.

9 comentários:

baraocampos@gmail.com disse...

Talvez pudesse existir um tempo sem tempo, algo ou alguma coisa que conseguisse ser nada sem ter de ser...
Talvez a ilusão ou a ignorância, talvez o sexo puro e duro, conseguisse afugentar este tempo sinónimo de morte anunciada...

Judô e Poesia disse...

Distante amigo,

Tenho dizer que este poema me fez quedar maravilhado, em suspenso.

Abraços,

Domingos

Cosmunicando disse...

brincar com o tempo, liquefazer o relógio e brotar a poesia... muito belo!
abraço

Úrsula Avner disse...

caro poeta, adorável e intenso poema bem versejado e que traduz o tempo em bonitas metáforas. Também escrevo e publico poesias no blogspot e estava pesquisando outros blogs quando me deparei com o seu. É ótimo conhecer novos escritores e fazer novas amizades. Visite-me quando possível. Um abraço e um ótimo feriado.

Moacy Cirne disse...

Um poema construído com sensibilidade e uma certa dose de surrealidade (aquém ou além do surrealismo?, pouco importa).
Um abraço
e grato por "seguir" o Balaio.

Marcos Martino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcos Martino disse...

Danilo, agradeço o comentário no ALVINÓPOLIS QUE PENSA. Li um livro de contos que escreveu e me causou ótima impressão. Coincidentemente, na época estava alucinado com realismo fantástico. Sobre o tempo, tenho lido sobre alguns físicos que por incrível que pareça, consideram a poesia e os poetas como oráculos, portadores de verdades sintéticas e abstratas que não podem ser encontradas em grandes compêndios científicos. Consideram a existência de dimensões paralelas onde o tempo não existe da forma que percebemos e consideram até a possibilidade de através dessas incursões, chegar na essência da existência, do espiritual, de Deus.

Unknown disse...

Adorei sua poesia!

Unknown disse...
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