quarta-feira, 29 de abril de 2009

BRILHO DA CARNE


foto: jesse gaardner/flickr


iris -descendo brilhos crus
em carnes fastiadas
verdeflamejantes arcos
encarnados:
a carne,mesmo putrefável,
capta luzes
como sóis
de vagalumes.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

TESÃO DA PALAVRA


FOTO: aslleponasunbean/FLICKR - cor

Abaixo a palavra-livro
estanque, estática,
Quero a palavra livre
Leve
Quero la palabra
Parabolé
parábola
parangolé
desdobrando enigmas
palabra-oboé
buscando novos tons
de híbridos sentidos
Quero a palavra-prima
prisma
crème de la crème
Quero a palavra-ave
Ensaiando voos
Quero a palavra
Eva
E seus contrários
Dando início à vida
Palavrávida
De outros caminhos
Palagrávida
De luz & lilazes
antikamikazes
Nas estepes frias
Quero a palavra-uva
chuva magenta
A escorrer sacrosumos
Pelos cantos da boca
Quero a palavra
Ava
Diva em technicolor
Derretendo celulóides
Quero a paalavra-ova
Ovo
o novo que se levanta
A anarquia
Contra as vãs hierarquias
Quero a palavra word
sword espada afiada
a talhar gargantas frouxas
Quero a palavra larva
das borboletas
Do vir-a-ser
Quero a palavra Love
Estampada escancarada
Arreganhada nas caras
Nas pernas nos braços
Tatuadas
Nos muros e murros
Quero a palavra urro
Em contraste aos silêncios
Sepulcrais
Sem choros, sem ais,

Quero a palavra
...


Um poema para ser lido em qualquer direreção.

domingo, 19 de abril de 2009

CADERNOS DE VIAGEM


foto: palmeiras psicodélicas- flickr/Eli K. Hayasaka


Rasgar a alma
Deixar cair a máscara
Que nos atordoa e fere a face
A fera face à fera
Fareja
Olha as sombras e a luz
De Lang
Sangue de nosfera-trues
Derretendo os degraus:
Fellini ferino
perdido entre as brumas
De rimini
italiamamma
E entre os rimels
De Magali
Forte, farta, linda.

Entre Renoir e beauvior
Eu navego
A mente clara
Entre os ratos rotos
Que sacolejam sobre necrópoles
E brócolis
Encharcados de carne
Restos
De um banquete que não foi.
O banquete dos mendigos
E ópera dos vinténs:
Lembro Brecht e bunuel
Meditativo, iconoclasta,
Entre tristanas, viridianas e nazarins
Contando a miséria humana.

E viajo na mente
Entre luzes e sombras
De goya, de Pasolini
Perdido em divagações
Sobre o ser humano
E o sexo:
Que foi que nos uniu?
O que foi que nos
Zuniu?
Sumiu daqui aquilo que era sacro
Ou profano
Os lírios, olhai os lírios
Do campo
Os líricos lívidos divididos
Lírios entre o bem e o mal
E os hipocampos, perdidos,
Flutuando, espumas, sobre um céu
Sereno
De âmbar e de safira
Pira, pira, queima na pira
Os desvarios e os delírios
Queima na pira
A pura loucura.

Navego
Nos oceanos do espírito
E da matéria:
Átomos, nêutrons, partículas
Quânticas
Quantas perguntas ainda
A serem feitas
Quantas?

O mundo gira, entre
Luzes e sombras
Entre assombros
Entre escombros
O homem se esquece
Perdido, nas estrelas.
Portal de venturas.

Aquarius, aquarius,
Deixa o sol entrar
E destruir o mofo
Que enregelou as almas
Como pedras de gelo
Dos himalaias!

Tudo se evaporou
Todo sólido
Derramou-se em líquidos
E vapores
Que se esfacelaram no ar.

Nada ficou do antes.
E eu que tinha
Pretensões do belo
Tentações de poeta
O que é que faço agora?
O que é que eu canto agora?


sobre a obra:
iimaginárias memoristórias de viagens

sábado, 18 de abril de 2009

DILACERADO


foto: Pip...Hopeless - by Occhiovivo/Flickr

O soco na boca do estômago
Um chute no saco
Uma porrada na cara
Um tapa no ouvido
A garganta ressecada
E a boca que fede
Na ressaca da orgia:
A foda in fault
O fogo fátuo
O passo em falso
Nada disso dói
Tanto como a palavra
Atirada assim, ao léu,
Farpa afiada
Adaga impiedosa
Faca enferrujada
Que corta o sonho
E a possibilidade
Do vir a ser.

Dilacerado
O poema explode
Como um grito no ar
Cromo-um corpo que cai
Em vertigem assimétrica
Pelos tombadilhos
Dos navios.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

TANGÍVEL


foto: círculos tangentes, por sidi guariachi- flickr

Meu pai foi plenilunio
cometa foi
de brilho intenso e raro.
Páro, hoje,
a relembrar
seu tempo
e as nuances lúdicas
do seu estar no mundo.

Meu pai foi nascedouro
e foz
fez
de águas nunca represadas
estuário de emoções
e sentimentos.

Foi palavra, foi canto,
foi música do vento
foi poesia, voando
no tempo.
Trazia
encantos de luar
em asas de borboletas
e cantos de passarins.

Meu pai foi verso,
foi verbo,
foi verbena e rosa
um ser de estirpe impar
desses que habitam este
e os outros mundos.

Foi. É.
Meu pai será
para sempre
presença tangivel
nas águas do meu rio
que se desloca,
em círculos concêntricos
buscando repetir
a sua imensidão..

in memorian do meu pai, no 11º aniversário de seu falecimento

terça-feira, 7 de abril de 2009

TORQUATEANDO


foto: Toillete angoisse - flickr/Gómez

Torquateando afogo
o coro dos contentes
ateando fogo às vestes
engulo o vweneno das vespas
e das vestais
Que auguram paz.

Torquateanas
loucalúcidas
bocas túrgidas
que beijam o caos
E trepam
com o infinito:
que sensações buscadas
nas entranhas
das entrelinhas
te trouxeram
o asco da existência?

Torquateando
incendeio estrelas
e escancaro sóis
obscuros, nas trilhas
dos caracóis:
não chore, baby,
a vida é assim:
É fim.

Ensaio
no trono dos tolos
atirando tijolo e pedra
nos costados dos navios
pavios
para o inconsciente.

Cogito.Existo.Resisto
e insisto no caminho
ainda e apesar.
Torquateando fogo
na mesmice
e flertando,
obliquamente
com o caos e anarquia
absorvo metáforas
absolvo metástases
e respiro palavras
na busca do sentido.


um mínimo cantanárquico para o poeta destoante do coro dos contentes

sábado, 4 de abril de 2009

TEMPO LÍQUIDO


foto: Relógios- flickr/Luciano Di Segni

O relógio liquido
não conta as horas
que passam.
É um pássaro
apenas
suas penas se liquefazem
como liquens
com o passar
do tempo afetivo.

O relógio louco
detona flores
gelatinosas
no arco da memória.
Aide-memoire
a nos lembrar que o tempo
não existe assim, sozinho:
depende de nós
o seu desenrolar.

O relógio mole
se desfaz
e respinga rosas
e odores
de prosa
e poesia
sobre as curvas do tempo:
matéria prima de sonhos
surreais.

O relógio fantasma
registra passos
lassos laços
os compassos
das odes ao espírito
E os cânticos à matéria
de gentes que foram,
que são, que virão.
gentes que são
causa e consequencia
de qualquer poesia.

O relógio poema
liquidifica-se em nuvens
brancas de algodão
quando tocado
Por inábeis mãos:
suas cores são palavras
tácteis
são fractais de tempos
que flutuam, indiferentes
na névoa da eternidade:
só o poeta é capaz
de tocá-las
e transmutá-las
em coisas tangíveis.